BLOG ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE. AUTOR: ÁLAZE GABRIEL GIFTED.
Disponível em http://espiritualidade-e-religiosidade.blogspot.com.br
Autoria:
1. Julio
Fernando Prieto Peres. Doutor em Neurociências e
Comportamento pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
(IP-USP) e membro do Núcleo de Estudos de Problemas Espirituais e Religiosos
(NEPER).
2. Manoel
José Pereira Simão. Mestre em Neurociências e
Comportamento pela USP e membro do Neper.
3. Antonia
Gladys Nasello. Doutorado pela Universidade
Nacional de Córdoba, na Argentina, e pela USP. Professora adjunta do
Departamento de Ciências Fisiológicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa
Casa de São Paulo.
RESUMO
Crenças e práticas religiosas/espirituais constituem
uma parte importante da cultura e dos princípios utilizados para dar forma a
julgamentos e ao processamento de informações. O conhecimento e a valorização
de tais sistemas de crenças colaboram com a aderência do indivíduo à
psicoterapia e promovem melhores resultados. Contudo, nem todas as abordagens
encontraram um ajuste desse tema em suas intervenções e os diversos conceitos
sobre religiosidade/espiritualidade dificultam essa importante interface. Neste
artigo, trazemos os conceitos mais coerentes e acessíveis para facilitar o
diálogo profissional no âmbito terapêutico. Discutimos o impacto da
subjetividade, dos estados de consciência e das percepções influenciadas pela
religiosidade/espiritualidade na saúde mental e a importância de a psicoterapia
voltar-se a clientes e respectivos sistemas de crenças, desenvolvendo modelos
que mobilizem esperança e potencializem suas capacidades de superação. A
despeito da atual distância entre estudos controlados e práticas clínicas,
discutimos a integração das dimensões espirituais/religiosas na psicoterapia
com profissionalismo ético, conhecimento e habilidades para alinhar as
informações coletadas ao benefício do cliente. Considerando que apenas 7,3% da
população brasileira não têm religião e a escassez de abordagens e
psicoterapeutas que contemplem a religiosidade/espiritualidade, apontamos a
relevância de investigações sobre o tema e que as propostas psicoterápicas
sejam testadas em ensaios clínicos.
INTRODUÇÃO
O interesse sobre a espiritualidade e a
religiosidade sempre existiu no curso da história humana, a despeito de
diferentes épocas ou culturas. Contudo, apenas recentemente a ciência tem
demonstrado interesse em investigar o tema. No começo dos anos de 1960, os
estudos eram dispersos e, nesse período, surgiram os primeiros periódicos
especializados, entre os quais o Journal of Religion and Health. A
partir dessa época, estudos realizados sobre espiritualidade e religiosidade em
amostras específicas (por exemplo, enfermidades graves, depressão e transtornos
ansiosos) mostraram pertinência quanto à investigação do impacto dessas
práticas na saúde mental e na qualidade de vida (Propst, 1992; Azhar et al.,
1995; Pargament, 1997; Koenig, 2001; Berry, 2002).
A crença religiosa constitui uma parte importante
da cultura, dos princípios e dos valores utilizados pelos clientes para dar
forma a julgamentos e ao processamento de informações. A confirmação de suas
crenças e inclinações perceptivas pode fornecer ordem e compreensão de eventos
dolorosos, caóticos e imprevisíveis (Carone e Barone, 2001). Vários estudos
demonstram que o conhecimento e a valorização dos sistemas de crenças dos
clientes colaboram com a aderência do indivíduo à psicoterapia, assim como com
melhores resultados das intervenções (Giglio, 1993; Razali et al., 1998;
Sperry e Sharfranske, 2004). Porém, poucos estudos envolvendo religiosidade,
espiritualidade e psicoterapia foram conduzidos no Brasil. Realizamos a revisão
da literatura a partir de um levantamento de artigos publicados até janeiro de
2007 no Medline/PubMed e no PsycINFO com os descritores religiousness –
spirituality – psychotherapy. Escolhemos os artigos, livros e teses que
consideramos pertinentes para atender ao objetivo do presente artigo:
fundamentar a análise e a discussão dos achados de pesquisas nesse âmbito, suas
implicações clínicas, assim como apontar a relevância do tema para
investigações no Brasil.
CONCEITOS ESPIRITUALIDADE E RELIGIÃO
Atualmente, observa-se na literatura psicológica
ênfase crescente do tema espiritualidade (Crossley e Salter, 2005). Um estudo
recente mostrou que os principais domínios discutidos em psicoterapia de
indivíduos americanos incluíram o trabalho, a família, os amigos e a
sexualidade. A religião e a espiritualidade foram consideradas temas de igual
importância e os clientes observaram os terapeutas abertos para discussão
desses domínios (Miovic et al., 2006). Contudo, nem todas as abordagens
encontraram um ajuste do tema em suas intervenções terapêuticas. O método
qualitativo com entrevistas semi-estruturadas foi utilizado para investigar
como psicólogos clínicos compreendem e abordam a espiritualidade durante a
psicoterapia. Os psicólogos estudados consideraram a espiritualidade um tema
potencialmente provedor do encontro de equilíbrio e harmonia dos clientes.
Contudo, a diversidade de conceitos acerca da espiritualidade foi observada
como um aspecto crucial da dificuldade para abordar o tema na psicoterapia. O
estudo pontuou a importância de tornar os conceitos religião e espiritualidade
mais coerentes e acessíveis, facilitando o diálogo profissional no contexto
terapêutico (Miovic et al., 2006; Crossley e Salter, 2005). Portanto,
adotamos aqui as definições de Koenig (2001), que conceitua religião como um
sistema organizado de crenças, práticas, rituais e símbolos projetados para
auxiliar a proximidade do indivíduo com o sagrado e/ou transcendente, e
espiritualidade como uma busca pessoal de respostas sobre o significado da vida
e o relacionamento com o sagrado e/ou transcendente.
PSICOTERAPIA, SUAS BASES E VALIDAÇÃO
As contínuas reflexões da humanidade sobre si mesma
e a vida, sobre as emoções, o porquê da existência, do nascimento e da morte
deram origem à filosofia, reconhecido berço da psicologia. As raízes da
psicologia remontam à Grécia Antiga, quando o filósofo Aristóteles (384-322
a.C.) produziu o escrito Acerca da alma, citado muitas vezes como o
primeiro manual de psicologia (Aristotle, 1956). O termo psicologia, no qual
reside a raiz etimológica psiché (alma) mais o sufixo logos
(razão, estudo), surgiu no final do século XVI com Rodolfo Goclenio e a
publicação Psychologhía, hoc est de hominis perfectione, animo et in primis
ortu eius, commentationes ad disputationes. A proposta original da
psicologia foi estudar e compreender o espírito – do latin spiritus –,
que significa literalmente respiração. Os limitados métodos científicos dos
séculos passados favoreceram o distanciamento da psicologia em relação ao
estudo do "não-palpável", enquanto a medicina desenvolvia métodos
para investigações do corpo (do latim corpus: parte essencial) (Finger,
1994).
Com o objetivo de tratar, remover ou modificar
sintomas de natureza emocional e promover o crescimento e o desenvolvimento da
personalidade, surgiram, em meados do século XIX, as psicoterapias no Ocidente.
Estas variam em relação às escolas filosóficas, às perspectivas epistemológicas
e às teorias e aos métodos que utilizam como orientação de suas intervenções
práticas. A publicação do artigo "Some implicit common factors in diverse
methods of psychotherapy", de Rosenzweig (1936), foi um marco original da
discussão sobre diferenças, similaridades e eficácia das psicoterapias. O
achado geral de pouca ou nenhuma diferença entre as principais escolas da
psicoterapia em termos de efetividade global foi previsto nesse artigo
publicado há 70 anos (Samstag, 2002, p. 58) e a discussão deste por Goldfried
(1999) trouxe novamente o tema à tona. Atualmente, as áreas de concordância
entre as abordagens psicoterápicas continuam mais expressivas que as
diferenças, sobressaindo em especial quatro aspectos: a similaridade dos
objetivos; a relação terapeuta-cliente tem papel central nos processos; o
cliente responsabiliza-se pelas escolhas; e a promoção da compreensão do
"eu" pelo cliente (Duncan, 2002). De fato, Luborsky et al.
(2002), a partir do exame de 17 metanálises de estudos comparativos de diversas
modalidades de psicoterapias, encontraram diferenças não significativas de
resultados. Os autores reconhecem que "resultados não significativos não
indicam que os tratamentos comparados têm os mesmos efeitos para todos os
pacientes". Por outro lado, Bohart (2000) postulou que o cliente deve ser
visto como o fator comum mais importante na psicoterapia, trazendo o conceito
de "resiliência" – capacidade de atravessar dificuldades e voltar à
qualidade satisfatória de vida – para argumentar que os clientes, e não os
terapeutas, são os curadores. Estudos anteriores sobre resiliência concluíram
que o desenvolvimento psicológico humano é altamente polido e autocorretivo
(Prochaska et al., 1992; Masten et al., 1998). Os tipos de
assistência que os terapeutas provêem consistem de processos humanos de
autocura que ocorrem naturalmente, talvez de uma forma mais refinada e
sistemática (Neno, 2005). Portanto, a psicoterapia deve voltar-se para os
clientes e respectivos sistemas de crenças, no sentido de potencializar suas
capacidades, uma vez que a terapia funciona até onde estes aceitam participar e
as condições de aprendizagem. Além disso, é fundamental que a psicoterapia
trabalhe para desenvolver modelos colaborativos, baseados na relação, que
enfatizem a mobilização da esperança e do otimismo, o envolvimento ativo do
cliente e a ajuda para que este mobilize suas inteligências intrínsecas para
encontrar soluções (Bohart, 2000, p. 145). Nesse sentido, é razoável postular
que a religiosidade e a espiritualidade devem ser consideradas pelos terapeutas
em suas abordagens, e mesmo estratégias psicoterápicas que valorizem tais
sistemas de crenças devem ser formuladas e investigadas quanto à eficácia do
tratamento.
A mais recente geração dos estudos sobre eficácia
da psicoterapia foi influenciada por políticas de financiamento dirigidas pelo
National Institute of Mental Health, quando o modelo médico, consolidado nos
estudos farmacológicos, passa a ser prescrito na avaliação das psicoterapias
(Goldfried e Wolfe, 1998, p. 144). As novidades metodológicas incluíram: a) uso
do DSM-IV (American Psychiatric Association, 1994) na definição dos problemas e
das medidas de resultados; b) seleção de pacientes que se adaptem estritamente
a um diagnóstico; c) distribuição randômica dos participantes entre os grupos;
d) refinamento das diretrizes para intervenção (manuais detalhados); e)
treinamento dos terapeutas para seguimento dos manuais; e f) criação de
mecanismos de verificação da correspondência entre desempenho de terapeutas e
manuais prescritos. Seligman (1995) também chama a atenção à importância de
avaliar aspectos intitulados como não-específicos, tais como: traços de
personalidade do terapeuta que podem sensibilizar o estabelecimento do rapport
– aliança terapêutica –, a aderência e a confiança do cliente em relação ao
profissional e ao respectivo tratamento. Assim, as psicoterapias baseadas em
evidência requerem padronização em manual e eficácia encontrada em pelo menos
dois estudos clínicos randomizados com amostras significativas de pacientes bem
caracterizados conforme DSM-IV (American Psychiatric Association, 1994) e
grupos controles criteriosamente escolhidos – lista de espera, placebo,
medicamento, outras intervenções já estabelecidas (Weissman et al.,
2006). Os conceitos de validades interna (confiança com que se pode atribuir as
mudanças observadas às manipulações do tratamento) e externa (a evidência do
quanto um tratamento funciona na prática clínica real) foram também propostos
para o estudo da eficácia das psicoterapias (Chambless e Ollendick, 2001).
Contudo, apesar de algumas abordagens direcionadas a transtornos específicos
terem validação empírica (Chambless et al., 1998), Weissman et al.
(2006) observaram que poucas psicoterapias baseadas em evidências são ensinadas
em programas de psicologia e psiquiatria creditados pelo governo americano.
Ainda que a considerável distância entre os estudos controlados e as práticas
clínicas atuais prevaleça, enfatizamos que as propostas psicoterápicas na área
da religiosidade e da espiritualidade, assim como em outras áreas, sejam
padronizadas e testadas em ensaios clínicos. O investimento nesse sentido está
alinhado ao atendimento ético dos indivíduos que buscam psicoterapia.
ÉTICA, PSICOTERAPIA E RELIGIOSIDADE
Deve o médico/psicólogo discutir temas espirituais
com seus clientes? Quais são os limites entre o médico/psicólogo e o cliente
que consideram temas religiosos e espirituais? Quais são os limites
profissionais entre o médico/psicólogo e o capelão/orientador espiritual? Essas
são algumas das perguntas que norteiam discussões éticas recentes sobre o tema
(Post et al., 2000). A inclusão da categoria "problemas religiosos
ou espirituais" como uma categoria diagnóstica inserida no DSM-IV
(American Psychiatric Association, 1994) reconhece que os temas religiosos e
espirituais podem ser o foco da consulta e do tratamento
psiquiátrico/psicológico (Lukoff et al., 1995). Alguns educadores
recomendam que os médicos perguntem rotineiramente sobre a espiritualidade e a
religião ao conduzirem a história médica de seus pacientes (Ehman et al.,
1999). Entretanto, integrar dimensões espirituais e religiosas de vidas dos
clientes durante a psicoterapia requer profissionalismo ético, alta qualidade
de conhecimento e habilidades para alinhar as informações coletadas sobre as
crenças e valores ao benefício do processo terapêutico. Alguns achados
empíricos mostram que os clientes adotam (são convertidos) os valores dos
psicoterapeutas (especialmente valores morais, religiosos e políticos),
revelando sérios problemas éticos, tais como: redução da liberdade do cliente,
violação do contrato terapêutico, falta de competência do terapeuta e perda da
neutralidade do terapeuta (Tjeltveit, 1986). A Associação Psiquiátrica
Americana produziu um guia que incita os terapeutas a compreender e manter
respeito empático para abordar as crenças religiosas dos pacientes (Giglio,
1993), reforçando que o treinamento adequado do terapeuta, a compatibilidade
terapeuta-cliente, a atenção à pessoa, e não apenas à doença, e a busca da
compreensão empática podem reduzir a ocorrência da conversão de valores e
minimizar os problemas éticos associados (Tjeltveit, 1986; Giglio, 1993; Post et
al., 2000). Lomax et al. (2002) avaliaram psicólogos que buscam
integrar psicoterapia e religião ou psicoterapia e espiritualidade, e
consideram que a primeira seja dificultosa, enquanto a integração da
psicoterapia não-religiosa com a espiritualidade é possível e confere bons
resultados. Os autores apontam que algumas observações éticas merecem atenção,
tais como: habilidade de inquirir sobre a vida religiosa e espiritual dos
pacientes é um elemento importante da competência psicoterapêutica; a
informação sobre as vidas religiosas e espirituais dos pacientes revela
freqüentemente dados extremamente importantes para superação de suas
dificuldades; o processo do inquérito sobre esse domínio deve ser respeitoso; e
há um potencial significativo para faltas éticas quando o terapeuta exagera
suas convicções pessoais abandonando o princípio da neutralidade.
A confiança depositada no terapeuta desempenha um
papel central na efetividade do tratamento, ou seja, clientes que estabelecem
uma relação de empatia e confiança com seus psicólogos/médicos se beneficiam
mais que outros que não a estabelecem. Tal confiança não pode ser negada pelos
profissionais, mas sim cuidada eticamente (Peres et al., 2007a). A
Associação Psiquiátrica Americana (The American Psychiatric Association, 2006)
recomenda alguns procedimentos para psicoterapeutas ao abordarem os temas
espiritualidade e religiosidade: identificar se variáveis religiosas e
espirituais são características clínicas relevantes às queixas e aos sintomas
apresentados; pesquisar o papel da religião e da espiritualidade no sistema de
crenças; identificar se idealizações religiosas e representações de Deus são
relevantes e abordar clinicamente essa idealização; demonstrar o uso de
recursos religiosos e espirituais no tratamento psicológico; utilizar
procedimento de entrevista para acessar o histórico e envolvimento com religião
e espiritualidade; treinar intervenções apropriadas a assuntos religiosos e
espirituais e atualizar a respeito da ética sobre temas religiosos e
espirituais na prática clínica.
Os psicoterapeutas devem estar confortáveis com
clientes que levantam questões existenciais e espirituais (Shaw et al.,
2005; Peres et al., 2007a). Explorar crenças religiosas e espirituais
pode ser útil no processo psicoterápico (Sparr e Fergueson, 2000), é uma
necessidade terapêutica e um dever ético respeitar essas opiniões, devendo
haver empatia, assim como continência em relação à realidade que o cliente
traz, ainda que os terapeutas não compartilhem das mesmas crenças religiosas
(Shafranske, 1996).
CRENÇAS, SUBJETIVIDADE E PERCEPÇÃO
A maioria das abordagens psicoterápicas articula percepção,
memória e sistemas de crenças dos indivíduos durante o processo terapêutico
(Peres et al., 2005b). A neurociência tem revelado que o mundo percebido
por cada indivíduo não é uma reflexão exata do mundo físico e aspectos e
características essenciais do mundo percebido não estão, de fato, presentes no
mundo físico (Ramachandram e Gregory, 1991). Estudos realizados sobre percepção
visual revelam como é realmente pequeno o nível de informações que o cérebro
assimila enquanto observamos o mundo, em relação à abundância de informações
por ele fornecidas. As discussões desses achados apontam que a riqueza da
experiência individual é imensamente subjetiva. Os comportamentos cotidianos
dependem pouco do que se enxerga e muito do trabalho de projeção treinada
(Ramachandran e Gregory, 1991; Yarrow et al., 2001). Qualidades da
percepção, valências emocionais e interpretações relativas aos eventos
experimentados não têm uma contraparte única correspondente aos eventos
físicos. Isto é, a percepção de mundo está sujeita às crenças do indivíduo e a
seu histórico de vida, afetando a sensibilidade para estímulos específicos, os
critérios de escolha e o limiar de observação (Metzger, 1974). Além disso,
experiências subjetivas alteram o arranjo sináptico na rede neural (Kandel et
al., 2000, p. 34) e os perceptos constituídos por experiências objetivas e
subjetivas podem determinar o estímulo ao qual o indivíduo vai reagir (Metzger,
1974). Um exemplo do importante impacto da subjetividade no sofrimento
psicológico é demonstrado no estudo de Creamer et al. (2005). Conforme
os critérios do DSM-IV, a definição de transtorno de estresse pós-traumático
(TEPT) inclui componentes objetivos (A1) e subjetivos (A2) (American
Psychiatric Association, 1994). Os autores estudaram a prevalência do critério
A2 e sua associação com memórias traumáticas e a psicopatologia seguida a
eventos traumáticos em 6.104 adultos. A maioria dos indivíduos (76%) preencheu
o critério A2, com maior prevalência em mulheres (81%) que em homens (69%).
Apenas 3% dos indivíduos que não preencheram o critério A2 apresentaram
memórias traumáticas persistentes. Os autores sugerem que o processamento
subjetivo que envolve as memórias traumáticas pode ser o mediador decisivo da
psicopatologia seguida ao trauma. O estudo reforça a importância de o
tratamento psicoterápico abranger os diálogos internos subjetivos e respectivos
sistemas de crenças (Peres et al., 2005a).
Outros achados da neurociência sugerem que o
imaginário tenha um valor neurofisiológico parecido com o que desempenhamos em
comportamentos objetivos (Williamson et al., 2001). Entre outros
estudos, Kraemer et al. (2005) revelaram que a condição imaginária de
audição e visualização obedeceu a reciprocidades neurais similares à condição
real de ouvir e visualizar os mesmos eventos. Técnicas de visualização ativa
têm sido empregadas em psicoterapias com resultados satisfatórios, ainda que o
tratamento não seja eficiente para todos os pacientes (Menzies e Taylor, 2004).
Em proveito da natureza subjetiva da percepção humana, a habilidade de
reconstrução emocional e reinterpretação a eventos dolorosos pode ser também
utilizada com eficácia na psicoterapia (Peres et al., 2005b). Desenhos
experimentais poderão testar se a religiosidade e a espiritualidade podem compor
um enquadre cognitivo – imaginário – provedor de amparo para superação de
dificuldades psicológicas.
RELIGIÃO, SAÚDE E BEM-ESTAR ESPIRITUAL
Alguns pesquisadores propuseram que a religião
originou-se como uma maneira de tratar a morte (Malinowski, 1954). As primeiras
discussões sobre religião no âmbito da psicologia foram trazidas por Freud, que
a considerou como remédio ilusório contra o desamparo. A crença na vida após a
morte estaria embasada no medo da morte, análogo ao medo da castração, e a situação
à qual o ego estaria reagindo é a de ser abandonado (Freud, 1980, p. 153).
Atualmente, a experiência religiosa deixou de ser considerada fonte de
patologia e, em certas circunstâncias, passou a ser reconhecida como provedora
do re-equilíbrio e saúde da personalidade (Levin, 1996; Koenig, 2001). As
teorias sociológicas atuais vêem a crença na vida após a morte como um
componente central de muitos sistemas religiosos, fornecendo significado à vida
atual com a continuidade na seguinte (Stark e Bainbridge, 1996). De fato, a
existência da vida depois da morte é uma crença presente na maioria das
religiões mais abrangentes (Obayashi, 1992). Considerando os dados demográficos
sobre religião, mais de três quartos dos americanos acreditam na vida após a
morte (Greeley e Hout, 1999; Klenow e Bolin, 1989-1990) e aproximadamente 92%
dos brasileiros apresentam a mesma crença, uma vez que apenas 7,3% da população
não tem religião (IBGE, 2000). Apesar de tal crença ser difundida, pouca
pesquisa sobre esse tópico tem aparecido na literatura psicológica e
psiquiátrica (Exline, 2002), e a maioria das pesquisas existentes examinou os
efeitos da crença na vida após a morte em relação ao medo da morte (Alvarado et
al., 1995; Templer, 1972; Templer e Dotson, 1970). Alguns estudos não
conclusivos sugerem indícios da continuidade da vida após a morte (Stevenson,
1983; Stevenson e Samararatne, 1988; van Lommel et al., 2001), e ainda
que a pergunta permaneça não respondida pela ciência, a crença na vida após a
morte de uma amostra nacional de 1.403 americanos esteve relacionada com menor
severidade de seis conjuntos de sintomas (ansiedade, depressão, compulsão,
paranóia, fobia e somatização). O estudo mostrou que tal crença também
influencia positivamente a qualidade de vida (Flannelly et al., 2006).
O bem-estar espiritual é uma dimensão do estado de
saúde, junto às dimensões corporais, psíquicas e sociais (World Health
Organization, 1998). Por considerar as experiências místicas e meditativas como
processos mensuráveis e quantificáveis, com base nas evidências acumuladas na
literatura e na prática médica, a Organização Mundial da Saúde, por meio do
grupo de Qualidade de Vida, incluiu em seu instrumento genérico de avaliação de
qualidade de vida o domínio Religiosidade, Espiritualidade e Crenças Pessoais
com 100 itens. Esse instrumento colaborou com outros estudos que identificaram
correlações importantes ao conhecimento dos profissionais da saúde. Myers
(2000) investigou a relação entre o estado de felicidade e a prática religiosa
em 34 mil participantes e evidenciou uma correlação positiva entre essas
variáveis. Mueller et al. (2001) revisou estudos publicados e
metanálises que examinavam a associação entre envolvimento
religioso/espiritualidade e saúde física, mental e qualidade de vida. A maioria
dos estudos mostrou que envolvimento religioso e espiritualidade estão
associados com melhores índices de saúde, incluindo maior longevidade,
habilidades de manejo e qualidade de vida, assim como menor ansiedade,
depressão e suicídio. Uma metanálise recente de 49 estudos que envolveu o total
de 13.512 sujeitos investigou a associação entre o manejo religioso e o ajuste
psicológico (Ano e Vasconcelles, 2005). O manejo religioso positivo teve uma
relação positiva moderada (r = 0,33) com ajuste psicológico positivo e uma
correlação inversa modesta (r = – 0,12) com ajuste psicológico negativo,
enquanto o manejo religioso negativo mostrou correlação positiva (r = 0,22) com
ajuste psicológico negativo. A maioria dos estudos que investigou a relação entre
a religiosidade/espiritualidade e a saúde mental revelou que níveis mais
elevados da participação religiosa estão associados com maior bem-estar e saúde
mental (Moreira-Almeida et al., 2006).
TRAUMA, DESAMPARO E ESPERANÇA
Desamparo é uma palavra usada freqüentemente pelos
indivíduos traumatizados com TEPT quando procuram expressar seus estados
emocionais (Scher e Resick, 2005). Estudos sugerem que o aumento da esperança e
a diminuição do desespero e do desamparo podem ser fatores importantes para uma
melhor saúde e longevidade (Kubzansky et al., 2001, pp. 913-914). Quando
as pessoas se traumatizam, freqüentemente procuram novos sentidos e
significados em suas vidas (Peres et al., 2007a). Um fator decisivo ao
desenvolvimento de uma resposta resiliente relaciona-se com a maneira que os
indivíduos percebem e processam a experiência (Peres e Nasello, 2005). As
pessoas que desenvolvem interpretações de como lidar e tentar modificar
positivamente o presente podem superar traumas mais facilmente (Bonanno, 2004).
As crenças e as práticas espirituais e religiosas baseiam-se fortemente em
buscas pessoais para compreender o significado da vida, o relacionamento com o
sagrado e o transcendente (Moreira-Almeida e Koenig, 2006). As práticas
religiosas podem ter influência importante em como as pessoas interpretam
eventos traumáticos e lidam com eles, promovendo percepções resilientes e
comportamentos como a aprendizagem positiva da experiência, o amparo para
superação da dor psicológica e a auto-confiança em lidar com as adversidades.
Um estudo que avaliou as possíveis correlações entre religião e trauma
psicológico envolveu 1.385 veteranos de guerra com TEPT em tratamento. As
experiências de testemunhar e não conseguir impedir as mortes de soldados
companheiros enfraqueceram a fé religiosa, observada como um preditor
significativo de uso mais extensivo dos serviços de saúde mental. Curiosamente,
a severidade de sintomas do TEPT e as dificuldades no relacionamento
interpessoal não foram preditores do uso continuado dos mesmos serviços, tais
como a fé enfraquecida. Os autores levantaram a possibilidade de que a
motivação preliminar dos veteranos para procurar tratamento continuamente pode
ser a busca de significados e finalidades de suas experiências traumáticas.
Isto sugere que abordar a espiritualidade pode ser mais central ao tratamento
do TEPT do que se tem pensado (Fontana e Rosenheck, 2004). Em outra revisão de
11 estudos empíricos sobre as associações entre religião, espiritualidade e
traumas psicológicos, Shaw et al. (2005) mostraram três achados
principais: a religião e a espiritualidade são geralmente, embora não sempre,
benéficas ao tratamento pós-trauma; as experiências traumáticas podem conduzir
ao aprofundamento da religiosidade ou da espiritualidade; e o manejo religioso
positivo, a abertura religiosa, a prontidão para enfrentar perguntas
existenciais e a religiosidade intrínseca estiveram associados com a superação
psicológica pós-trauma. Pargament et al. (2004) propõem que o manejo
religioso pode ter algo especial a oferecer: "Pode equipar
excepcionalmente indivíduos para responderem às situações em que se vêem face a
face com os limites do poder e do controle humanos quando confrontados com suas
vulnerabilidades". Os autores ainda referem que as crenças e as práticas
religiosas podem reduzir a perda de controle e o desamparo, fornecendo uma
estrutura cognitiva que possa diminuir o sofrer e desenvolver a finalidade e
significado em face ao trauma.
São múltiplos e, às vezes, inesperados os caminhos
à resiliência (Bonanno, 2004). Uma vez que o desamparo é um fator de risco ao
TEPT, assim como a vulnerabilidade e a desesperança elevadas (Scher e Resick,
2005), é possível que o sentido de amparo, suporte e esperança possam, além de
ajudar a recuperação, proteger os indivíduos expostos aos eventos traumáticos
(Peres et al., 2007a). Suportando essa hipótese, alguns estudos
revelaram que a religiosidade pode ter efeito preventivo dos transtornos
mentais e funcionar como um fator positivo para o manejo de situações estressoras
(Grzymala-Mosczynka e Beit-Hallahmi, 1996; Mallony e Spilka, 1991; Martins,
2000).
NEUROIMAGEM DA RELIGIOSIDADE E ESTADOS ALTERADOS DE
CONSCIÊNCIA
James (1890) foi um dos primeiros psicólogos que
chamou a atenção sobre os outros estados de consciência diferentes do estado de
vigília. Metzner (1995) define estado alterado de consciência (EAC) como uma
mudança temporária no pensamento, no sentimento e na percepção, em relação ao
estado de consciência ordinário, e que tem início, duração e fim. Para Weil
(1995), a percepção da realidade se dá em função do estado de consciência do
indivíduo. Estados alterados de consciência induzidos pela prece e meditação
têm sido estudados com métodos de neuroimagem funcional. Especialistas em
meditação submetidos a estímulos dolorosos durante a prática meditativa
revelaram que não vivenciaram a dor tal como em estado de vigília. Durante o
EAC, observou-se predominância de freqüência alfa com picos máximos de 10 Hz
nos lobos occipital, parietal e nas regiões temporais, sugerindo estado de
relaxamento profundo sem caracterização do sono. Convergindo com achados
anteriores sobre a representação da percepção sensorial/emocional da dor
(Rainville et al., 2002), o estado meditativo revelou significativa
diminuição da atividade no tálamo, no córtex somatossensorial secundário, na
ínsula e no córtex cingulado quando comparado com o estado não meditativo. Uma
vez que a dor é uma experiência sensorial e emocional complexa, esse, entre
outros estudos com métodos eletrofisiológicos e de neuroimagem, esclareceu que
estados alterados de consciência podem gerar mudanças na atividade dos
circuitos relacionados à percepção da dor (Kakigi et al., 2005;
Rainville et al., 2002). Mudanças no fluxo sangüíneo cerebral foram
também observadas durante as preces (verbais repetitivas) de freiras
franciscanas. Em comparação à linha de base, o EAC decorrente das preces
mostrou atividade aumentada no córtex pré-frontal, nos lobos parietais
inferiores e frontais (Newberg et al., 2003). Achados similares foram
observados por Azari et al. (2001), que estudaram as reciprocidades
neurais da experiência religiosa investigada como um fenômeno de atribuição
cognitiva. Durante a recitação religiosa, observou-se aumento da atividade do
circuito frontoparietal, composto dos córtex parietal frontal e medial
pré-frontal e dorsolateral. Estudos prévios indicam que essas áreas são
subjacentes à sustentação reflexiva do pensamento e os autores discutem que a
experiência religiosa pode ser um processo cognitivo e não apenas uma vivência
emocional imediata. Lans (1996) confirmou que a religiosidade pode ser uma
fonte rica para encontrar propósitos de vida, assim como para formular
orientações cognitivas para avaliações e geração de comportamentos diante de
situações vitais ou traumáticas. A evocação espontânea ou voluntária de
memórias traumáticas ocorre em EAC com expressiva manifestação sensorial e
emocional (Peres et al., 2005b). Indivíduos traumatizados submetidos a
terapia de exposição e reestruturação cognitiva construíram narrativas
resilientes, com novos significados e atribuições ao evento traumático, e
atenuaram as respostas emocionais mediadas pela maior atividade do córtex
pré-frontal, do hipocampo esquerdo e parietais nos exames de neuroimagem
pós-psicoterapia (Peres et al., 2007b).
Tart (1990) e Metzner (1995) estudaram os EACs e
seu uso em psicoterapia, revelando que as experiências durante tais estados
podem influenciar mudanças de comportamento. Diversos autores demonstram que a
utilização do EAC para a percepção de imagens mentais pode ser uma ferramenta
efetiva na formação de novos padrões de pensamento, sentimento e comportamento
(Kasprow e Scotton, 1999). Diferentes estados de consciência podem promover
novas percepções a respeito de um mesmo fenômeno e, conseqüentemente, novos
estados emocionais favoráveis a superação de dificuldades e sofrimentos no
âmbito psicológico (Dietrich, 2003). Teoricamente, práticas
religiosas/espirituais subjetivas, como preces, contemplações e meditações,
podem alterar o estado de consciência, influenciando a mudança da percepção de
um evento que desencadeie sofrimento. Mesmo que a hipnose seja conhecida por
promover EAC com objetivos terapêuticos (Eslinger, 2000), o estudo e a
aplicação dos EACs talvez possam ser um dos caminhos para a integração da
espiritualidade e da religiosidade à psicoterapia, visando ao atendimento das
pessoas que valorizam, em seus sistemas de crença, essa instância subjetiva.
Como exemplo, a psicoterapia transpessoal aborda tópicos como a importância da
espiritualidade para reconquista da saúde e do bem-estar do cliente, assim como
a utilização dos EACs para promoção de relaxamentos e visualizações com impacto
terapêutico (Walach et al., 2005).
PSICOTERAPIA, RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE
O interesse no estudo do papel da religiosidade,
espiritualidade e práticas psicoterapêuticas em saúde se dá por diferentes
razões socioeconômicas e clínicas. Por exemplo, em culturas industrializadas
como a americana, 96% da população acredita em Deus ou em um espírito
universal, 75% reza regularmente, 42% freqüenta serviços religiosos
regularmente, 67% é membro de algum corpo religioso local, 67% afirma que a
religião é muito importante em suas vidas e 63% acredita que seus médicos
deveriam falar com seus pacientes sobre sua fé espiritual (Gallup, 1995). Além
disso, observam-se grande consumo de literatura "espiritual" e
crescente expansão na busca do sagrado e temas afins. Assim, iniciativas que
convergem a religiosidade e a espiritualidade à psicoterapia têm avançado nos
últimos 25 anos. Como exemplo, a psicoterapia religiosa procura reconhecer e
utilizar as crenças religiosas dos clientes em seus tratamentos para reduzir
sintomas e dificuldades do âmbito da saúde mental (Berry, 2002). Emmons e
Paloutzian (2003) revisaram o desenvolvimento empírico e conceitual dessa
abordagem com ênfase nos fundamentos cognitivos e afetivos da experiência
religiosa dentro da psicologia social e da personalidade e observaram que as
bases desse desenvolvimento devem-se ao fato de a religião e a espiritualidade
serem processos importantes da experiência humana. Porém, ainda que a
espiritualidade e a religiosidade sejam importantes e, às vezes, fundamentais à
vida humana, Schultz-Ross e Gutheil (1997) discutem que a dificuldade de
integrar esse tema à psicoterapia reside em alguns fatores, tais como: a
orientação tradicional de escolas psicoterápicas de que a espiritualidade está
fora da esfera da investigação e de conhecimento, a ausência de programas de
supervisão e treinamento e o desconforto com os temas espirituais e religiosos
por parte dos educadores e profissionais. Contudo, a despeito da abordagem
psicoterápica empregada, as pessoas que professam uma fé beneficiam-se dos
resultados na psicoterapia (Muller, 2004).
A prática do aconselhamento pastoral, embora não
incorporada às atividades dos profissionais de saúde, vem atraindo um crescente
interesse por parte dos psicólogos (Young e Griffth, 1989). Estudos confirmam
que o aconselhamento pastoral ou religioso pode resultar altos escores de
bem-estar, reabilitação e redução do impacto de eventos estressores (LeFavi e
Wessels, 2003; Josephson, 2004). Um estudo avaliou o papel do apoio social e
psicológico que líderes religiosos oferecem a seus fiéis e mostrou que tal
apoio a pessoas motivadas em recebê-lo foi efetivo para o bem-estar pessoal, a
resolução de conflitos e a redução de sintomas (Poon et al., 2003).
Propst et al. (1992) investigaram a
abordagem cognitivo-comportamental padrão e a cognitivo-comportamental
religiosa aplicadas a pacientes com depressão por terapeutas religiosos e
não-religiosos e compararam as respectivas intervenções com grupo controle em
lista de espera. A melhora dos indivíduos submetidos à psicoterapia foi
observada igualmente nas condições terapêuticas utilizadas e os terapeutas
não-religiosos obtiveram resultados superiores aos terapeutas religiosos
enquanto aplicavam abordagem cognitivo- comportamental religiosa. Uma
metanálise de cinco estudos que comparou a eficácia de abordagens de aconselhamento-padrão
e abordagens de aconselhamento adaptadas à religião também não encontrou prova
de superioridade de uma abordagem em relação à outra. Os achados sugerem que a
possibilidade de usar uma abordagem religiosa com clientes religiosos é
provavelmente mais uma questão da preferência do cliente que uma questão de
eficácia diferencial (McCullough, 1999). A despeito de a psicoterapia religiosa
ser tão eficaz quanto o tratamento-padrão (Berry, 2002), a psicoterapia com
orientação religiosa em grupos étnicos com fortes características culturais
religiosas mostrou melhora mais rápida inicial em três meses comparada à
psicoterapia sem orientação religiosa (Azhar e Varma, 1995). Convergindo com
esses achados, em estudo com pacientes ansiosos e depressivos, Razali et al.
(1998) observaram que aqueles submetidos à psicoterapia sociocultural e
religiosa melhoraram dos sintomas mais rapidamente nas primeiras semanas que o
grupo controle com tratamento-padrão. Porém, os resultados não se diferenciaram
aos seis meses. Os autores destacam a importância de a psicoterapia religiosa
precipitar a redução dos sintomas nos primeiros meses de tratamento. A terapia
cognitivo-comportamental adaptada para abordar a espiritualidade (spiritually
augmented cognitive behavioural therapy) mostrou que o uso da meditação
promoveu benefícios significativos no tratamento da desesperança e do desespero
(DSouza e Rodrigo, 2004). Uma revisão dos artigos sobre a eficácia da
terapia cognitivo-espiritual modificada (spiritually modified cognitive
therapy) aponta, segundo critérios da Associação Psiquiátrica Americana,
que essa modalidade tem validade empírica apenas no tratamento da depressão
(Hodge, 2006). Propostas de terapias de grupo e terapia familiar que inserem
temas espirituais e religiosos também têm sido pesquisadas (Jacques, 1998;
Patterson et al., 2000), assim como programas de intervenções
psicoeducacionais semi-estruturados em que o paciente discute sobre recursos
religiosos, espiritualidade, perdão e esperança (Phillips et al., 2002).
A maioria dos grupos considerou que uma vida espiritual é relevante para a
compreensão dos problemas pessoais e preferiu um terapeuta que se sentisse
confortável em discutir esses tópicos.
PERSPECTIVA DE NOVAS DIRETRIZES E INVESTIGAÇÕES
As religiões advogam, em geral, o perdão e a
absolvição, freqüentemente úteis na resolução de conflitos. Os efeitos
negativos da religião estão no exercício para manter a conformidade e a
promoção de um controle externo. Por outro lado, os profissionais de saúde
mental trabalham com o autodesenvolvimento livre e sensibilizam seus clientes
quanto à competência necessária para mudar e dirigir as próprias vidas (Carone
e Barone, 2001).
Neste artigo, observamos que vários estudos
internacionais contemplaram o tema espiritualidade/religiosidade e
psicoterapia, demonstrando pertinência dessa interface com bons resultados
terapêuticos. O Brasil possui um potencial religioso sincrético expressivo e
alta prevalência de praticantes de religiosidade/espiritualidade – apenas 7,3%
não têm religião (IBGE, 2000). Dada a escassez de abordagens e psicoterapeutas
brasileiros que contemplem esses indivíduos e seus respectivos sistemas de
crenças, consideramos que abordagens coerentes e ensaios clínicos randomizados
devem ser elaborados e conduzidos endereçando as necessidades de grande parte
da população.
Faz-se necessário o reconhecimento da
espiritualidade como componente essencial da personalidade e da saúde por parte
dos profissionais; esclarecer os conceitos de religiosidade e espiritualidade
com os profissionais; incluir a espiritualidade como recurso de saúde na
formação dos novos profissionais; adaptar e validar escalas de
espiritualidade/religiosidade à realidade brasileira e treinamento específico para
a área clínica. Esforços para acrescentar ao currículo das escolas médicas e
psicológicas a discussão da religião e espiritualidade estão em andamento
(Graves et al., 2002). A discussão com os alunos sobre as diferenças de
conceitos, as pesquisas sobre o tema, a compreensão dos processos saudáveis e
nocivos do uso de práticas religiosas e espirituais contribuem para melhor
qualidade de atendimento às necessidades dos clientes, diminuindo preconceito,
informando e formando melhores profissionais. De maneira similar à exploração
de toda a dimensão pessoal da experiência humana, a integração das dimensões
espirituais e religiosas dos clientes em seus tratamentos requer
profissionalismo ético, alta qualidade de conhecimento e habilidades para
alinhar as informações coletadas sobre as crenças e valores à eficácia
terapêutica.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ALVARADO,
K.A.; TEMPLER, D.I.; BRESLER, C.; THOMAS-DOBSON, T. - The relationship of
religious variables to death depression and death anxiety. J Clinl Psychol
51:202-204, 1995.
AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION. - Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders. 4th ed. American Psychiatric Association, Washington, 1994.
ANO,
G.G.; VASCONCELLES, E.B. - Religious coping and psychological adjustment to
stress: a meta-analysis. J Clin Psychol 61(4):461-480, 2005.
ARISTOTLE.
De anima. Oxford University Press, Oxford, 1956.
AZARI,
N.P.; NICKEL, J.; WUNDERLICH, G.; NIEDEGGEN, M.; HEFTER, H.; TELLMANN, L.;
HERZOG, H.; STOERIG, P.; BIRNBACHER, D.; SEITZ, R.J. - Neural correlates of
religious experience. Eur J Neurosci 13(8):1649-1652, 2001.
AZHAR,
M.Z.; VARMA, S.L. - Religious psychotherapy in depressive patients.
Psychother Psychosom 63(3-4):165-168, 1995.
BERRY, D.
- Does religious psychotherapy improve anxiety and depression in religious
adults? A review of randomized controlled studies. Int J Psychiatr Nurs Res
8(1):875-890, 2002.
BOHART,
A.C. - The client is the most important common factor: clients self-healing capacities and psychotherapy. Journal of Psychotherapy
Integration 10(2):127-149, 2000.
BONANNO,
G.A. - Loss, trauma, and human resilience: have we underestimated the human
capacity to thrive after extremely aversive events? The American
Psychologist 59;20-28, 2004.
CARONE,
D.A. JR.; BARONE, D.F. - A social cognitive perspective on religious beliefs:
their functions and impact on coping and psychotherapy. Clin Psychol Rev
21(7):989-1003, 2001.
CHAMBLESS,
D.L; BAKER, M.; BAUCOM, D.H.; BEUTLER, L.E.; CALHOUN, K.S. - Update on
empirically validated therapies, II. The Clinical Psychologist 51(1):3-16,
1998.
CHAMBLESS,
D.; OLLENDICK, T. Empirically supported psychological interventions:
controversies and evidence. Annual Review of Psychology 52: 685-716,
2001.
CREAMER,
M.; MCFARLANE, A.C.; BURGESS, P. - Psychopathology following trauma: the role
of subjective experience. Journal of Affective Disorders 86:175-182,
2005.
CROSSLEY,
J.P.; SALTER, D.P. - A question of finding harmony: a grounded theory study of
clinical psychologists experience of addressing
spiritual beliefs in therapy. Psychol Psychother 78(3):295-313, 2005.
DIETRICH,
A. - Functional neuroanatomy of altered states of consciousness: the transient
hypofrontality hypothesis. Consciousness and Cognition 12:231-256, 2003.
DSOUZA, R.F.; RODRIGO, A. - Spiritually augmented cognitive behavioural
therapy. Australas Psychiatry 12(2):148-152, 2004.
DUNCAN,
B.L. - The founder of common factors: a conversation with Saul Rosenzweig. Journal
of Psychotherapy Integration 12:10-31, 2002.
EMMONS,
R.A.; PALOUTZIAN, R.F. - The psychology of religion. Annu Rev Psychol
54:377-402, 2003.
ESLINGER,
M.R. - Hypnosis principles and applications: an adjunct to health care. CRNA
11(4):190-196, 2000.
EXLINE,
J.J. - The picture is getting clearer, but is the scope too limited? Three
overlooked questions in the psychology of religion. Psychol Inquiry
13:245-247, 2002.
FINGER,
S. - Origins of neuroscience: a history of explorations into brain function.
Oxford University Press, New York, 1994.
FLANNELLY,
K.J.; KOENIG, H.G.; ELLISON, C.G.; GALEK, K.; KRAUSE, N. - Belief in life after
death and mental health: findings from a national survey. J Nerv Ment Dis
194(7):524-529, 2006.
FONTANA,
A.; ROSENHECK, R. - Trauma, change in strength of religious faith, and mental
health service use among veterans treated for PTSD. J Nerv Ment Dis 192(9):579-584,
2004.
FREUD, S. - Inibições, sintomas e ansiedade.
Tradução: Oiticica, C.M. In: Salomão, J. (org.). Edição-padrão brasileira de
obras completas de Sigmund Freud (Vol. XX, pp.
95-203). Imago, Rio de Janeiro, 1980.
GALLUP. -
The Gallup Poll: public opinion. Scholarly Resources, Wilmington, 1995.
GIGLIO,
J. - The impact of patients and
therapists religious values on
psychotherapy. Hosp Community Psychiatry 44(8):768-771, 1993.
GOLDFRIED,
M.R.; WOLFE, B.E. - Toward a more clinically valid approach to therapy
research. Journal of Consulting and Clinical Psychology 65:143-150, 1998.
GOLDFRIED,
M.R. - The pursuit of consensus in psychotherapy: research and practice. Clinical
Psychology: Science and Practice 6(4):462-466, 1999.
GREELEY,
A.M.; HOUT, M. - Americans increasing belief in life
after death: religious competition and acculturation. Am Sociol Rev
64:813-35, 1999.
GRZYMALA-MOSCZYNKA,
H.; BEIT-HALLAHMI, B. - Religion, psichopathology and coping. Rodopi,
Amsterdam, 1996.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
(IBGE). - Censo demográfico. Brasil, 2000. [citado 25 jul 2005]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br.
JACQUES,
J.R. - Working with spiritual and religious themes in group therapy. Int J
Group Psychother 48(1):69-83, 1998.
JAMES, W.
- The principes of psychology. Holt, New York, 1890.
JOSEPHSON,
A.M. - Formulation and treatment: integrating religion and spirituality in
clinical practice. Child Adolesc Psychiatr Clin N Am 13(1):71-84, 2004.
KANDEL,
E.; SCHUARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. - Principles of Neural Science (4th
ed). McGraw- Hill, 2000.
KASPROW,
M.C.; SCOTTON, B.W. - A review of transpersonal theory and its application to
the practice of psychotherapy. Journal of Psychotherapy Practice Research
8(1):12-23, 1999.
KLENOW,
D.J.; BOLIN, R.C. - Belief in an afterlife: a national survey. Omega 20:63-64,
1989-1990.
KOENIG,
H. - Handbook of religion and health: a century of research reviewed.
University Press, Oxford, 2001.
KRAEMER,
D.J.M.; MACRAE, C.N.; GREEN, A.E.; KELLEY, W.M. - Musical imagery: sound of
silence activates auditory cortex. Nature 434:158, 2005.
KUBZANSKY,
L.D.; SPARROW, D.; VOKONAS, P.; KAWACHI, I. - Is the glass half empty or half
full? A prospective study of optimism and coronary heart disease in the
Normative Aging Study. Psychosomatic Medicine 63:910-916, 2001.
LANS,
J.V.D. - Religion as a meaning sistem: a conceptual model for research and
counseling. In: Grzymala-Mosczynka, H.; Beit-Hallahmi, B. Religon,
psychopathology and coping. Rodopi, Amsterdam, pp. 95-105, 1996.
LEFAVI,
R.G.; WESSELS, M.H. - Life review in pastoral counseling: background and
efficacy for use with the terminally ill. J Pastoral Care Counsel
57(3):281-292, 2003.
LEVIN,
J.S. - How religion influences morbidity and health: reflections on natural
history, salutogenesis and host resistance. Social Science & Medicine
43(5): 849-864, 1996.
LOMAX,
J.W.; KARFF, R.S.; MCKENNY, G.P. - Ethical considerations in the integration of
religion and psychotherapy: three perspectives. Psychiatr Clin North Am
25(3):547-559, 2002.
LUBORSKY,
L.; ROSENTHAL, R.; DIGUER, L.; ANDRUSYNA, T.P.; BERMAN, J.S.; LEVITT, J.T. -
The Dodo bird is alive and well-mostly. Clinical Psychology: Science and
Practice 9:2-12, 2002.
LUKOFF,
D.; LU, F.G.; TURNER, R. - Cultural considerations in the assessment and
treatment of religious and spiritual problems. Psychiatr Clin North Am
18(3):467-485, 1995.
MALINOWSKI,
B. - Magic, science and religion. Doubleday, New York, 1954.
MALLONY,
H.N.; SPILKA, B. - Religion in psychodynamic perspective. The contribution
of Paul W. Pruyser. Oxford
University Press, New York, 1991.
MARTINS, J.P.C. - Comportamento de terapeutas e
clientes face ao sobrenatural. Tese de Doutorado.
Universidade do Minho, Portugal, 2000.
MASTEN,
A.S.; COATSWORTH, J.D. - The development of competence in favorable and
unfavorable environments. Lessons from research on successful children. Am
Psychol 53(2):205-220, 1998.
MCCULLOUGH,
M.E. - Research on religion-accommodative counseling: review and meta-analysis.
Journal of counseling psychology 46(1):92-98, 1999.
MENZIES,
V.; TAYLOR, A.G. - The idea of imagination: an analysis of "imagery".
Advances Mind-Body Medicine 20:4-10, 2004.
METZGER,
W. - Can the subject create his world? In: MacLeod, R.B.; Pick H.L. (eds.). Perception:
essays in honor of James J. Gibson. Cornell University Press, Cornell, 1974.
METZNER,
R. - Therapeutic application of altered states of consciousness (ASC). In:
Schiliclitiny, M.; Leunes, H. (eds.). Worlds of consciousness. Vol 5. VWB,
Berlin, 1995.
MIOVIC,
M.; MCCARTHY, M.; BADARACCO, M.A.; GREENBERG, W.; FITZMAURICE, G.M.; PETEET,
J.R. - Domains of discussion in psychotherapy: what do patients really want? Am
J Psychother 60(1):71-86, 2006.
MOREIRA-ALMEIDA,
A.; KOENIG, H.G. - Retaining the meaning of the words religiousness and
spirituality. Soc Sci Med 63(4):843-845, 2006.
MOREIRA-ALMEIDA, A.; LOTUFO NETO, F.; KOENIG, H.G. -
Religiousness and mental health: a review. Revista Brasileira de Psiquiatria
28(3):242-50, 2006.
MUELLER,
P.S.; PLEVAK, D.J.; RUMMANS, T.A. - Religious involvement, spirituality, and
medicine: implications for clinical practice. Mayo Clin Proc 76(12):1189-1191,
2001.
MULLER, M.; TEIXEIRA, E.; SILVA, J. - Espiritualidade
e qualidade de vida. Edipucrs, Porto Alegre,
2004.
MYERS,
D.G. - The funds, friends, and faith of happy people. American Psychol
55:56-67, 2000.
NENO, S. - Tratamento padronizado:
condicionantes históricos, status contemporâneo e (in)compatibilidade
com a terapia analítico-comportamental. Tese de doutorado. Programa de
Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do
Pará, Belém, 2005.
OBAYASHI,
H. - Death and afterlife: perspectives of world religions. Greenwood
Press, New York, 1992.
PARGAMENT,
K.I. - The Psychology of religion and coping: theory, research, and
practice. Guilford Press, New York, 1997.
PARGAMENT,
K.I.; KOENIG, H.G.; TARAKESHWAR, N.; HAHN, J. - Religious coping methods as
predictors of psychological, physical and spiritual outcomes among medically
ill elderly patients: a two-year longitudinal study. J Health Psychol
9(6):713-730, 2004.
PATTERSON,
J.; HAYWORTH, M.; TURNER, C.; RASKIN, M. - Spiritual issues in family therapy:
a graduate-level course. J Marital Fam Ther 26(2):199-210, 2000.
PERES, J.F.P.; NASELLO, A.G. - Achados da
neuroimagem em transtorno de estresse pós-traumático e suas implicações
clínicas. Rev Psiq Clin 32(4):189-201, 2005.
PERES, J.F.P.; MERCANTE, J.P.P.; NASELLO, A.G. -
Promovendo resiliência em vítimas de trauma psicológico. Rev Psiquiatr Rio Gd Sul 27(2):131-138, 2005a.
PERES,
J.F.P.; MERCANTE, J.P.P.; NASELLO, A.G. - Psychological dynamics affecting
traumatic memories: implications in psychotherapy. Psychology and
Psychotherapy: Theory, Research and Practice 78:431-447, 2005b.
PERES,
J.F.P.; MOREIRA-ALMEIDA, A.; NASELLO, A.G.; KOENIG, H.G. - Spirituality and
resilience in trauma victims. Journal of Religion and Health 46(3): in
press, 2007a.
PERES,
J.F.P.; NEWBERG, A.B.; MERCANTE, J.P.; SIMÃO, M.; ALBUQUERQUE, V.E.; PERES,
M.J.P.; NASELLO, A.G. - Cerebral blood flow changes during retrieval of
traumatic memories before and after psychotherapy: a SPECT study. Psychological
Medicine 9:1-11, 2007b.
PHILLIPS,
R.E.; LAKIN, R.; PARGAMENT, K.I. - Development and implementation of a
spiritual issues psychoeducational group for those with serious mental illness.
Community Ment Health J 38(6):487-95, 2002.
POON, V.;
CHENG, M.; CHAN, V.C. - Pastoral counseling among chinese churches: a Canadian
study. In: J Pastoral Care Cousel 57(4):395-403, 2003.
PROCHASKA,
J.O.; DICLEMENTE, C.C.; NORCROSS, J.C. - In search of how people change.
Applications to addictive behaviors Am Psychol 47(9):1102-1114, 1992.
PROPST,
L.R.; OSTROM, R.; WATKINS, P.; DEAN, T.; MASHBURN, D. - Comparative efficacy of
religious and nonreligious cognitive-behavioral therapy for the treatment of
clinical depression in religious individuals. Journal of consulting and
clinical psychology 60(1):94-103, 1992.
RAINVILLE,
P.; HOFBAUER, R.K.; BUSHNELL, M.C.; DUNCAN, G.H.; PRICE, D.D. - Hypnosis
modulates activity in brain structures involved in the regulation of
consciousness. Journal of Cognitive Neuroscience 14(6):887-901, 2002.
RAMACHANDRAN,
V.S.; GREGORY, R.L. - Perceptual filling in of artificially induced scotomas in
human vision. Nature 350:699-702, 1991.
RAZALI,
S.M.; HASANAH, C.I.; AMINAH, K.; SUBRAMANIAN, M. - Religious-sociocultural
psychotherapy in patients with anxiety and depression. Australian an New
Zealand Journal of Psychiatry 32:867-872, 1998.
ROSENZWEIG,
S. - Some implicit common factors in diverse methods of psychotherapy. American
Journal of Orthopsychiatry 6:412-415, 1936.
SAMSTAG,
L.W. - The common versus unique factors hypothesis in psychotherapy research:
Did we misinterpret Rosenzweig? Journal of Psychotherapy Integration
12(1):58-66, 2002.
SCHULTZ-ROSS,
R.A.; GUTHEIL, T.G. - Difficulties in integrating spirituality into
psychotherapy. J Psychother Pract Res 6(2):130-138, 1997.
SELIGMAN,
M.E.P. - The effectiveness of psychotherapy: the consumer report study. American
Psychologist 50: 965-974, 1995.
SHAFRANSKE,
E. - Religion and the clinical practice of psychology. American
Psychological Association, Washington, 1996.
SHAW, A.;
JOSEPH, S.; LINLEY, P.A. - Religion, spirituality, and posttraumatic growth: a
systematic review. Mental Health, Religion & Culture 8(1):1-11, 2005.
SPARR,
L.F.; FERGUESON, J.F. - Moral and spiritual issues following traumatization.
Boehnlein, J.K. (ed.). Psychiatry and religion: the convergence of mind and
spirit. American Psychiatric Publishing, Washington, pp. 109-123, 2000.
SPERRY,
L.; SHARFRANSKE, E. - Spiritually oriented psychotherapy. APA, 2004.
STARK,
R.; BAINBRIDGE, W.S. - A theory of religion. Rutgers University Press,
New Brunswick, 1996.
STEVENSON,
I.; SAMARARATNE, G. - Three new cases of the reincarnation type in Sri Lanka
with written records made before verification. J Nerv Ment Dis
176(12):741, 1988.
STEVENSON,
I. - American children who claim to remember previous lives. J Nerv Ment Dis
171(12):742-748, 1983.
TART, C. -
Altered states of consciousness. 3rd ed. Harper, San Francisco, 1990.
TEMPLER,
D.I. - Death anxiety in religiously very involved persons. Psychol Rep
31:361-362, 1972.
TEMPLER,
D.I.; DOTSON, E. Religious correlates of death anxiety. Psychol Rep
25:895-897, 1970.
THE
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. - Religious/Spiritual Commitments and
Psychiatric Practice. 2006. Disponível em: <http://www.psych.org/
edu/other_res/lib_archives/archives/200604.pdf>.
TJELTVEIT,
A.C. - The ethics of value conversion in psychotherapy: appropriate and
inappropriate therapist influence on client values. Clinical Psychology
Review 6(6):515-537, 1986L
VAN
LOMMEL, P.; VAN WEES, R.; MEYERS, V.; ELFFERICH, I. - Near-death experience in
survivors of cardiac arrest: a prospective study in the Netherlands. Lancet 15;358(9298):2039-2045,
2001.
WALACH,
H.; KOHLS, N.; BELSCHNER, W. - Transpersonal psychology – Psychology of
consciousness: chances and problems. Psychother Psychosom Med Psychol
55(9-10):405-415, 2005.
WEIL, P. - Fronteiras da evolução e da morte. Vozes, Petrópolis, 1995.
WEISSMAN,
M.M.; VERDELI, H.; GAMEROFF, M.J.; BLEDSOE, S.E.; BETTS, K.; MUFSON, L.;
FITTERLING, H.; WICKRAMARATNE, P. - National survey of psychotherapy training
in psychiatry, psychology, and social work. Arch Gen Psychiatry 63(8):925-934,
2006.
WILLIAMSON,
J.W.; MCCOLL, R.; MATHEWS, D.; MITCHELL, J.H.; RAVEN, P.B.; MORGAN, W.P. - Hypnotic
manipulation of effort sense during dynamic exercise: cardiovascular responses
and brain activation. J Appl Physiol 90:1392-1399, 2001.
WORLD
HEALTH ORGANIZATION. - WHOQOL and spirituality, religiousness and personal
beliefs (SRPB). Report on WHO consultation, Division of Mental Health and
Prevention of substance abuse. Geneve, 1998.
YARROW,
K.; HAGGARD, P.; HEAL, R. - Illusiory perceptions of space and time preserve
cross-saccadic perceptual continuity. Nature 414:302-305, 2001.
YOUNG,
J.L.; GRIFFTH, E.E. - The development and practice of pastoral counseling. Hosp
Community Psychiatry 40(3):271-276, 1989.