terça-feira, 23 de julho de 2013

PERSONALIDADE E RELIGIOSIDADE/ESPIRITUALIDADE (R/E)



BLOG ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE. AUTOR: ÁLAZE GABRIEL GIFTED.
 
Autoria:
Letícia Oliveira Alminhana; Alexander Moreira-Almeida. Universidade Federal de Juiz de Fora


RESUMO GERAL

CONTEXTO: Embora existam muitos estudos relacionando o contexto religioso com a saúde física e mental, há poucas pesquisas sobre a interface entre religiosidade/espiritualidade (R/E) e personalidade.

OBJETIVOS: O objetivo principal foi revisar as evidências empíricas de investigações sobre a relação entre religiosidade, espiritualidade e personalidade.

MÉTODOS: Foi realizado um levantamento da produção acadêmica por meio das bases de dados virtuais: PubMed e PsychInfo, com artigos indexados até janeiro de 2008 e utilizando as combinações: "personality and spiritu*" e "personality and religio*" Além disso, foram pesquisados os artigos presentes em uma metanálise sobre o tema.

RESULTADOS: Alta Religiosidade está associada a baixo Psicoticismo e a alta Amabilidade e Conscienciosidade. Conscienciosidade em adolescentes pode ser um preditor significante para a maior religiosidade na adultez jovem. E a dimensão de Religiosidade é mais provável candidata a residir além dos cinco grandes fatores de personalidade.

CONCLUSÃO: A crença em uma dimensão de Religiosidade, em uma realidade transcendente ou em um Deus pessoal, em alguns casos, parece não possuir correspondências entre quaisquer dos cinco fatores de personalidade. Isso parece indicar que a R/E seja um potencial sexto fator de personalidade que não está presente nos modelos de personalidade atuais.

Palavras-chave: Personalidade, religiosidade/espiritualidade, psicoticismo, amabilidade e conscienciosidade.

INTRODUÇÃO

A personalidade tem sido estudada pela psicologia, no Ocidente, desde o século XIX. Contudo os aspectos ligados à religiosidade/espiritualidade (R/E) foram pouco explorados ou até mesmo patologizados por algumas teorias de personalidade e pela psicologia e psiquiatria como um todo. Entretanto, atualmente, a relação entre R/E e saúde foi examinada em publicação que revisou mais de 1.200 estudos realizados ao longo do século XX: a The handbook of religion and health4. Nele, os autores afirmam que a religião continua tendo um papel significativo na vida das pessoas, mesmo depois de importantes avanços em áreas como educação, psicologia e medicina. A exemplo disso, estudos mostram que as crenças e as práticas religiosas são estratégias eficientes de muitos pacientes para lidar com as doenças; 80% dos estudos revisados por Koenig et al.4 apontam para relações positivas entre religiosidade e bem-estar. Estudos prospectivos, semiexperimentais e experimentais, sugerem que atividades religiosas e/ou espirituais levam à redução dos sintomas de depressão e que psicoterapias seculares e de orientação religiosa apresentam a mesma efetividade4.
Nesse sentido, recentemente os fenômenos relacionados à esfera religiosa e espiritual do comportamento humano foram incluídos em classificações como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais3,5 e, também, a Organização Mundial da Saúde incluiu um domínio denominado religiosidade, espiritualidade e crenças pessoais em seu instrumento de avaliação de qualidade de vida, o WHOQOL6. Além disso, há muitos estudos que relacionam o contexto religioso com a saúde física e mental, embora existam poucas pesquisas sobre a interface entre R/E e personalidade7-9.
Atualmente, pesquisadores de diversas áreas começam a ver a R/E como área de crescente potencial para a teoria e a pesquisa em personalidade10. E, diante disso, este artigo objetiva revisar as evidências empíricas de investigações sobre a relação entre religiosidade, espiritualidade e personalidade.


MÉTODO

Foi realizado um levantamento da produção acadêmica por meio das seguintes bases de dados virtuais: PubMed e PsychInfo, com artigos indexados até janeiro de 2008. As pesquisas em tais fontes de dados foram realizadas com as combinações: "personality and spiritu*" e "personality and religio*"; e foram encontrados 530 artigos no PubMed e 350 na PsychInfo. Os artigos foram selecionados a partir de seus títulos, quando estes incluíam o estudo da personalidade e R/E, e, depois, dos resumos, entre os quais foram incluídos apenas aqueles que faziam revisões sobre a relação entre R/E e personalidade e que apresentavam resultados com dados originais. Além disso, foram pesquisados os artigos presentes em uma metanálise sobre o tema11 e foram analisadas as referências bibliográficas dos artigos obtidos, com o objetivo de encontrar outros cujo tema fosse relevante para o conteúdo abordado na presente revisão.

RESULTADOS



Nas últimas décadas, a fim de investigar as relações entre personalidade e religiosidade/espiritualidade, muitos pesquisadores utilizaram as taxonomias de traços de personalidade descritas em dois grandes modelos. O primeiro é conhecido como "Três Grandes" (Big Three) fatores ou P-E-N de Hans Eysenck; o segundo é o modelo dos "Cinco Grandes" (Big Five) ou Modelo de Cinco Fatores, que foi impulsionado pelas pesquisas léxicas de Cattel.
De acordo com Hall et al., o modelo de Hans Eysenck apresenta dois aspectos centrais para o estudo da personalidade: um descritivo, taxonômico e biológico, responsável pelas diferenças individuais e fundamentais da personalidade; outro causal, que resulta da aprendizagem e do ambiente.
No modelo de Hans Eysenck, Psicoticismo é o fator associado a egocentrismo, frieza, agressividade, impessoalidade, impulsividade, falta de empatia, criatividade, obstinação e antissociabilidade; Extroversão associa-se a sociabilidade, vitalidade, atividade, assertividade, busca de sensações, dominância; Neuroticismo está ligado a características como ansiedade, depressão, sentimentos de culpa, baixa autoestima, tensão, irracionalidade, timidez, tristeza e emotividade12. A partir dessa teoria, foram desenvolvidos posteriormente o Eysenck Personality Inventory (EPI), que avalia a introversão e o neuroticismo, e o Eysenck Personality Questionnaire (EPQ), que inclui o psicoticismo1.
O segundo modelo, dos Cinco Grandes fatores de personalidade ou Big Five, teve como base o trabalho de R. B. Cattell, que pode ser considerado seu "pai intelectual". Suas análises fatoriais da personalidade utilizaram a chamada "hipótese léxica", que consistia em colher informações a partir de expressões encontradas na linguagem natural das pessoas, encontrando em torno de 16 fatores que descreviam a personalidade.
Utilizando método semelhante ao de Cattell, alguns estudos posteriores analisaram a estrutura da personalidade e chegaram a apenas cinco fatores que eram obtidos com confiabilidade. A nomenclatura de cada fator utilizada no manual do Inventário de Personalidade NEO versão brasileira, revisado (NEO PI-R), originalmente desenvolvido por Costa e McCrae, apresenta: Extroversão, Neuroticismo, Abertura à Experiência, Conscienciosidade e Amabilidade.
Extroversão e Neuroticismo correspondem aos fatores E e N da escala de H. Eysenck. Abertura à Experiência está associada à flexibilidade de pensamento, à fantasia e à imaginação, à abertura para novas experiências e interesses culturais14. Conscienciosidade refere-se ao senso de contenção, ao sentido prático, à responsabilidade, ao zelo, à disciplina, à honestidade, à engenhosidade, à cautela, à organização e à persistência. Amabilidade está ligada a atitudes e a comportamentos pró-sociais, a características como altruísmo, cuidado, amor, apoio emocional, docilidade, generosidade e lealdade. Conscienciosidade e Amabilidade correspondem a polos opostos à escala de psicoticismo de Eysenck.

R/E E OS TRÊS GRANDES FATORES DA PERSONALIDADE (PEN)

Teoricamente, as hipóteses de Michael Eysenck18 sobre o modelo dos Três Grandes fatores de personalidade afirmam que extroversão e psicoticismo possuem associações negativas com religiosidade, enquanto neuroticismo apresentaria associações positivas. Nesse sentido, uma metanálise de 12 estudos sobre R/E e os Cinco Grandes fatores de personalidade afirma que, em várias culturas e denominações religiosas, convergem para a resultante associação entre religiosidade e baixo psicoticismo.
Contudo, é importante ressaltar nestes estudos qual dimensão religiosa está sendo estudada. A dimensão mais utilizada na presente revisão é a "orientação religiosa" proposta por Gordon Allport, psicólogo de Harvard que também estudou a personalidade. De acordo com ele, a orientação religiosa de uma pessoa pode ser Extrínseca ou Intrínseca. A religiosidade extrínseca está associada a comportamentos religiosos que visam a benefícios exteriores, de status, segurança e distração, em que a pessoa se volta ao sagrado ou a Deus, mas sem desapegar-se do self. Por outro lado, a religiosidade intrínseca está associada a um sentimento de significado último da vida, em que a pessoa busca harmonizar suas necessidades e interesses às suas crenças, esforçando-se por internalizá-las e segui-las completamente22. Como diz Allport, ao estabelecer uma comparação entre as duas orientações: "os extrínsecos usam sua religião enquanto os intrínsecos a vivenciam".
Utilizando essa diferenciação, Maltby encontrou resultados significativos que apresentaram associações negativas entre religiosidade e psicoticismo. O estudo aplicou a Escala Modificada de Orientação Religiosa (GORSUCH e VENABLE, 1983 – Age-Universal, Escala I – E – Intrínseca-Extrínseca) e o Questionário de Personalidade de Eysenck (EPQR – A – R) em duas amostras de estudantes universitários da Irlanda (n = 172) e da Inglaterra (n = 213). Nos resultados, a orientação religiosa intríseca, mas não a extrínseca, esteve associada negativamente a psicoticismo.
Michael Eysenck apresenta três alternativas para explicar a consistente relação negativa entre psicoticismo e religiosidade: a primeira seria que pessoas com baixo psicoticismo seriam mais atraídas para a religião, possuindo mais atitudes positivas relacionadas a esta do que pessoas com alto psicoticismo; a segunda explicação seria o oposto, ou seja, pessoas que adotam atitudes e práticas religiosas tendem a apresentar como resultado baixo psicoticismo e a última alternativa seria considerar que baixo psicoticismo e alta religiosidade são características socialmente desejáveis; logo, espera-se que pessoas com altos índices de sociabilidade apresentem menos psicoticismo e mais religiosidade.
Com relação a isso, McCullough et al. consideram que, embora os pesquisadores tenham sido bem-sucedidos em descobrir uma correlação básica entre religiosidade e personalidade, estando as medidas de uma relacionadas às medidas da outra, isso não explica por que tais medidas estão relacionadas. Sendo assim, as duas primeiras alternativas de explicação de Michael Eysenck carecem de mais estudos longitudinais para que se saiba a direção dessa associação.
A terceira hipótese de Michael Eysenck para explicar a relação negativa entre psicoticismo e religiosidade foi examinada por Lewis, em dois estudos com o intuito de observar se essa relação estaria "contaminada" pela expectativa social. No primeiro estudo, mesmo controlando para os escores da Escala de Mentira, as únicas correlações significativas encontradas foram a associação negativa entre psicoticismo e religiosidade e a associação positiva entre psicoticismo e obsessividade.
No segundo estudo, a aplicação dos instrumentos ocorreu em dois tempos: no primeiro momento os sujeitos responderam aos questionários sob condições normais, mas no segundo, eles foram conectados a um "detector de mentira" (bogus pipeline). Os resultados não apresentaram diferenças significativas entre os escores obtidos sob condições normais e sob a segunda condição, com o "detector de mentira"21. A conclusão da revisão foi de que os dois estudos sustentam que a associação entre religiosidade e traços de personalidade de obsessividade e de psicoticismo não estão em função da expectativa ou desejabilidade social.
Hills et al. utilizaram o Religious Life Inventory, incluindo escalas que mediam as dimensões de religiosidade intrínseca, extrínseca e busca (quest – busca religiosa/espiritual) e o EPP (Eysenck Personality Profiler), para avaliar os traços de personalidade. Sua amostra foi de 400 estudantes universitários (110 homens e 290 mulheres). Os resultados não encontraram associações significativas entre extroversão e religiosidade. Contudo, neuroticismo esteve associado positivamente com religiosidade extrínseca e busca e não apresentou associações com religiosidade intrínseca e com as variáveis comportamentais de frequência à igreja e oração pessoal. Psicoticismo esteve associado negativamente a todas as variáveis religiosas, comportamentais e psicométricas, sendo todas as associações de magnitude similares, embora a relacionada à religiosidade extrínseca seja a mais fraca. Também foi observado que as relações entre psicoticismo e religiosidade não podem ser atribuídas a diferenças unicamente de gênero (no caso o masculino), sendo, então, a associação negativa com psicoticismo uma característica geral da religiosidade.
As observações mais importantes do estudo são de que sentimento de culpa está associado a cada uma das orientações religiosas, constituindo-se como um forte preditor de religiosidades intrínseca e de busca; de que os intrínsecos parecem ser mais felizes, mais dogmáticos, não agressivos e independentes; de que o comportamento religioso está associado com todos os fatores de maior ordem do PEN Eysenckiano (Psicoticismo, Extroversão e Neuroticismo), em contraste com os achados anteriores que afirmavam que o psicoticismo era o único preditor mais evidente de religiosidade25.
Dessa forma, a análise dos dados deste estudo sustenta a concepção de que as crenças religiosas estão associadas a sentimentos de culpa, como se observa em Freud e em Pratt25 ao tratarem da natureza da religião. No entanto, os resultados não apoiam a visão de que indivíduos religiosos são, por outro lado, neuróticos, o que também afirmava Freud. Ao contrário, segundo os autores, os intrínsecos tendem a ser mais felizes e independentes.
Resumindo, os estudos que relacionam R/E e os Três Grandes fatores da personalidade convergem para uma associação negativa entre religiosidade e psicoticismo, que não é explicada pela desejabilidade social, pelas diferenças de gênero.

R/E E OS CINCO GRANDES FATORES DA PERSONALIDADE (BIG FIVE)

A revisão sistemática com metanálise de 13 estudos sobre religiosidade e os cinco fatores de personalidade, realizada por Saroglou, analisou diferentes dimensões de religiosidade. As religiosidades geral/intrínseca e aberta-madura estiveram correlacionadas, principalmente, com Amabilidade e Conscienciosidade (igual a baixo psicoticismo), conforme esperado pelo autor. De acordo com Saroglou, a religião está relacionada com os cinco fatores de personalidade, mas essa relação depende claramente da dimensão de religiosidade que é medida. Para ele, os futuros artigos deveriam permitir que as metanálises investigassem o impacto de variáveis moderadoras, como idade, gênero, denominação e populações religiosas gerais versus específicas.
McDonald e Taylor conduziram um estudo com 1.129 estudantes universitários de Psicologia, no Canadá, e obtiveram resultados semelhantes àqueles apontados por Saroglou. Uma das limitações do estudo, apontada pelos autores, é o fato de que estudantes universitários podem não constituir uma amostra apropriada para estudar as relações entre personalidade e religiosidade.
McCullough et al. afirmam que a maioria dos estudos sobre personalidade e religiosidade são transversais e com instrumentos de autoavaliação. Segundo eles, as pesquisas longitudinais mais amplas, bem como estudos que avaliem de forma mais completa a inter-relação da personalidade e dos fatores sociais na formação da religiosidade, serão passos lógicos no sentido de dar seguimento à visão de Allport para uma psicologia da personalidade que ofereça uma luz à dimensão religiosa do funcionamento humano.
A única pesquisa longitudinal encontrada nesta revisão é o estudo conduzido por McCullough et al., que examinou a associação entre os Cinco Grandes fatores de personalidade e religiosidade, sob a perspectiva do desenvolvimento. Os autores analisaram 492 adolescentes superdotados (QI = ou > 135), entre 12 e 18 anos, por um período de 19 anos. Os adolescentes foram avaliados em intervalos entre 5 e 10 anos, e seus pais e professores também preencheram uma escala de personalidade relacionada à sua percepção sobre cada participante. Em seus resultados, os adolescentes que foram apontados pelos pais e professores como mais abertos à experiência se tornaram mais religiosos na adultez, o que contraria as expectativas, pois a Abertura à Experiência está relacionada à tendência a considerar novas ideias e a questionar valores e crenças. Contudo, como os temas ligados à R/E são amplos no que tange a ideias, crenças e valores, é possível que a Abertura à Experiência possa predispor os adolescentes a considerarem as dimensões de R/E da vida.
Os resultados obtidos após o controle para as correlações entre os Cinco Grandes por meio de regressões multivariadas apontam para a Conscienciosidade em adolescentes como o único preditor significativo para a maior religiosidade na adultez jovem10. Segundo os autores, isso parece sugerir processos de desenvolvimento em que a Conscienciosidade seria uma tendência biológica e a religiosidade, uma característica adaptativa que pessoas com alta conscienciosidade estariam propensas a adotar. Ainda assim, a associação Conscienciosidade-religiosidade parece atingir os adolescentes em geral, sem diferenças entre seus graus de educação religiosa.
Além disso, a pesquisa também observou que adolescentes que mostravam maior instabilidade emocional estavam mais sujeitos a adotar, na maioridade, níveis de religiosidade semelhantes aos de seus pais. Para os autores, isso pode significar que o adolescente emocionalmente instável pode adotar a religião dos pais como forma de manter o bem-estar afetivo e evitar conflitos com a família.
Em resumo, os resultados encontrados nos estudos apresentam associações positivas entre alta Conscienciosidade, alta Amabilidade e religiosidade10,11,15,16; e a Conscienciosidade aparece como preditor de religiosidade na adultez, independentemente da educação religiosa recebida10.

R/E PARA ALÉM DOS CINCO GRANDES

De acordo com Saucier e Goldberg, um corpo considerável de pesquisas tem demonstrado o poder de síntese dos cinco amplos fatores de personalidade, tanto em autodescrições quanto em descrições feitas por outros. No entanto, alguns pesquisadores têm sugerido que um grande número de conteúdo descritivo da personalidade não está incluído de forma adequada no Modelo de Cinco Fatores.
No estudo conduzido por Hills et al., as análises fatoriais entre dimensões de religiosidade e fatores de personalidade preditivos observaram que as dimensões de religiosidade formavam um discreto e substancial segundo fator que não estava associado com nenhum dos fatores primários ou de maior ordem de personalidade. Assim sendo, os autores afirmam que as diferentes dimensões de religiosidade parecem possuir mais em comum umas com as outras do que com quaisquer dos fatores primários de personalidade. Sendo assim, segundo Hills et al., pode-se concluir que ser religioso está associado com algum aspecto da personalidade que não está representado nos 21 fatores primários do EPP (Eysenck Personality Profiler) ou que a "consciência espiritual" é, ela mesma, uma diferença individual da personalidade que está faltando nos modelos mais tradicionais. Esta última possibilidade parece ser consistente com a sugestão de Piedmont, de que a transcendência espiritual pode ser um fator adicional que não está incluído no modelo de cinco fatores da personalidade.
Outro estudo realizado por Kosek, na Polônia, investigou a utilidade do Modelo de Cinco Fatores como um instrumento interpretativo para avaliar constructos religiosos. Segundo o autor, os resultados sugerem que uma predisposição pessoal em direção aos outros (alta Amabilidade e Conscienciosidade) está associada a uma crença positiva em relação a Deus. As análises de regressões múltiplas sugeriram que os cinco domínios de personalidade explicaram 4% da variedade na qualidade da relação com Deus de uma pessoa, enquanto a orientação religiosa explicou 35% dessa variedade. Este estudo é uma adaptação do paradigma de Piedmont e Hendrick e é o primeiro a trazer essas questões ao contexto polonês.
Na Bélgica, Duriez et al. realizaram um estudo com estudantes de Psicologia (n = 335) com o objetivo de analisar as relações entre duas dimensões de religiosidade (Inclusão versus Exclusão de Transcendência e Literalismo versus Simbolismo) e dois modelos de personalidade: os Cinco Grandes e o Identity Style Inventory. Nos resultados, Duriez et al. afirmam que não há nenhum tipo de relação entre quaisquer dos cinco fatores de personalidade e a crença ou não em uma realidade transcendente ou um Deus pessoal. Os resultados apontados por eles estão em concordância com os achados de Piedmont e Paunonem e Jackson, os quais sustentam que a religiosidade e a espiritualidade estão além dos fatores representados no Modelo de Cinco Fatores de personalidade.
Nesse sentido, o estudo conduzido por Saucier e Goldberg, da Universidade de Oregon, identificou 53 grupos de adjetivos que pareciam não estar inseridos na classificação dos Cinco Grandes e os administrou em uma amostra de 694 adultos, 57% mulheres, com idade média de 50 anos. Utilizando como ponto de corte uma relação de 0,3 para adjetivos serem considerados independentes dos Cinco Grandes, apresentou os seguintes resultados: Religiosidade, Valência Negativa e vários aspectos da Atratividade. Assim sendo, segundo os autores, tais resultados apontam para a necessidade de suplementação dos Cinco Grandes, caso se procure entender de modo mais abrangente os traços de personalidade.
De modo ainda mais explícito, a análise de Paunonen e Jackson, com relação à questão – "O que está além dos Cinco Grandes?" –, lança a resposta – "Muita coisa!". Esta conclusão está apoiada no exame, feito pelos autores, dos dados oferecidos por Saucier e Goldberg, apresentados acima. Paunonen e Jackson consideraram os critérios de Saucier e Goldberg muito liberais e decidiram reavaliar os 53 grupos de adjetivos que pareciam não estar inseridos na classificação dos Cinco Grandes, analisados anteriormente por Saucier e Goldberg. Eles escolheram, então, como ponto de corte uma relação de 0,2 para adjetivos independentes dos Cinco Grandes, a qual consideraram mais razoável, porém ainda liberal. Os resultados apresentaram 26 grupos considerados relativamente independentes dos Cinco Grandes. Destes, foram encontradas nove dimensões bipolares, e, de todas elas, aquelas que identificavam o grupo "Religioso, devoto, venerado" apresentaram as correlações mais baixas com os Cinco Grandes.
Conforme Paunonen e Jackson, esse resultado confirma a afirmação de Saucier e Goldberg de que a dimensão de religiosidade é a mais provável candidata a residir além dos cinco grandes fatores tradicionais de personalidade.

ESPIRITUALIDADE COMO UM SEXTO FATOR DE PERSONALIDADE

Piedmont apresenta três critérios empíricos que seriam necessários para demonstrar que as variáveis espirituais representam algo diferente das dimensões que abrangem o Modelo de Cinco Fatores: 1º. A nova dimensão de personalidade precisa mostrar ser independente das cinco já existentes; 2º. Precisa estar num nível de generalidade e abrangência comparável às outras cinco, assumindo muitas facetas menores; 3º. Ela deve ser recuperável, sobrevivendo às múltiplas fontes de informação, ou seja, por meio de fontes de classificação e de medidas.
A pesquisa de Piedmont foi realizada no intuito de desenvolver uma escala que pudesse conter medidas que capturassem aspectos do indivíduo que sejam independentes das qualidades contidas no Modelo de Cinco Fatores de personalidade. O instrumento é denominado de "Escala de Transcendência Espiritual", sendo "transcendência espiritual" definida como: a) Um senso de conectividade com toda a raça humana; b) Universalidade, crença na natureza unitiva de toda a vida; c) Rezar, ter sentimentos de alegria e contentamento que resultam de encontros pessoais com uma realidade transcendente.
A pesquisa utilizou duas amostras: uma de desenvolvimento, com 277 mulheres e 102 homens, e outra de validação, que contou com 265 mulheres e 91 homens; cada participante indicou duas pessoas que o conheciam há, no mínimo, três meses para responder a escalas sobre eles. Os resultados confirmaram que a Transcendência Espiritual mostrou-se: 1º. Independente das medidas do Modelo de Cinco Fatores; 2º. Evidenciou boa convergência interobservada; 3º. Conseguiu predizer um amplo alcance de resultados psicológicos salientes, mesmo depois do controle dos efeitos preditivos dos Cinco Fatores da personalidade. Desse modo, segundo Piedmont, a Transcendência Espiritual representa uma dimensão distinta no funcionamento psicológico e deve ser considerada uma potencial sexta dimensão da personalidade.
Na mesma direção, McDonald buscou explorar a existência de uma estrutura fatorial significante que fundamentasse a espiritualidade e a associação desta com a personalidade (Modelo de Cinco Fatores). Os resultados apontaram para a existência de cinco dimensões robustas de espiritualidade: 1. Orientação Cognitiva em relação à Espiritualidade (inclui crenças, atitudes e percepções a respeito da natureza e da importância da espiritualidade); 2. Dimensão Experiencial/Fenomenológica da Espiritualidade (experiências que são descritas como espirituais, religiosas, místicas, de pico, transcendentais e transpessoais); 3. Bem-Estar Existencial (sensação de sentido e propósito para a existência e a percepção de si mesmo como sendo competente e capaz de lidar com as dificuldades da vida e com as limitações da existência humana); 4. Crenças Paranormais (crenças em precognição, psicocinese, espiritualismo, fantasmas e aparições); 5. Religiosidade (expressão da espiritualidade por meio de significados e símbolos religiosos). Para medir essas dimensões, foi validado o Inventário de Expressões de Espiritualidade.
As associações entre o Inventário de Expressões de Espiritualidade e o NEO PI-R apresentaram altas correlações entre a Dimensão Fenomenológica/Existencial e Abertura para a Experiência, seguida por Extroversão; Crenças Paranormais também obtiveram notáveis associações com Abertura; Religiosidade esteve associada mais claramente com Amabilidade e Conscienciosidade e menos com Abertura; Orientação Cognitiva em relação à Espiritualidade esteve relacionada com Amabilidade e Conscienciosidade, seguida por Abertura e Extroversão e Bem-Estar Existencial, apresentou correlações negativas com Neuroticismo, enquanto obteve correlações significantemente positivas com Conscienciosidade, Extroversão e Amabilidade.
No entanto, segundo McDonald, apesar dessas associações, os elementos mais importantes da espiritualidade apresentam-se conceitualmente únicos, apontando para a possibilidade de existirem grandes aspectos da personalidade que não estão representados no Modelo de Cinco Fatores.
Finalmente, Cloninger et al. desenvolveram o Modelo Psicobiológico de Temperamento e Caráter. De acordo com os autores, o Modelo de Cinco Fatores não captura algumas dimensões consideradas indispensáveis para a compreensão de transtornos de personalidade e os aspectos ligados à Autoatualização, descrita na Psicologia Humanista e na Psicologia Transpessoal. Além disso, as análises fatorial e estatística não são capazes de definir a estrutura causal subjacente à variabilidade biológica e social dos traços de personalidade31. Assim sendo, os autores propõem um modelo alternativo aos Cinco Grandes, que considera os determinantes biológicos e sociais subjacentes, incluindo quatro dimensões de temperamento e três dimensões de caráter. As dimensões de temperamento, de base hereditária, são: Busca pelo novo; Evitação de sofrimento; Dependência de Recompensas e Persistência.
As dimensões de caráter, ligadas a questões sociais, ao autoconceito e ao aprendizado são: Autodiretividade (relacionada à autonomia e à presença ou ausência de transtorno mental); Cooperatividade (relacionada ao sentimento de fazer parte da humanidade como um todo) e Autotranscendência (relacionada à sensação de fazer parte do universo como um todo e à espiritualidade). A Autotranscendência, especificamente, é considerada um processo de desenvolvimento relacionado à aceitação da espiritualidade, à identificação com aquilo que está além do self individual e, em última instância, à perda das fronteiras entre o self e os outros por meio da identificação com o conceito de um Deus imanente, que está em tudo. Os autores subdividem a Autotranscendência em cinco estágios: 1. Esquecimento do self vs. egocentrismo; 2. Identificação transpessoal vs. individualismo; 3. Aceitação espiritual vs. materialismo racional; 4. Iluminação vs. objetividade e 5. Idealismo vs. praticidade32.
Cloninger et al. desenvolveram o Inventário de Temperamento e Caráter (ITC), o qual também auxilia no diagnóstico diferencial. Segundo os autores, baixos escores nas escalas de caráter, como Autodiretividade, estão associados com irresponsabilidade, baixo controle de impulsos e transtornos de personalidade; baixa Cooperatividade é associada a déficits de empatia, hostilidade, agressividade e oportunismo, e baixos escores de Autotranscendência estão associados a comportamentos materialistas com pouca ou nenhuma preocupação com ideais como bondade e harmonia universal.



DISCUSSÃO

Como afirmam McCullough et al., os estudos transversais podem apenas sugerir associações entre personalidade e R/E, mas não explicam o porquê de tais associações. Apenas os resultados do estudo longitudinal conduzido por McCullough et al. apresentam dados mais conclusivos a esse respeito, apontando para a primeira explicação de Michael Eysenck, em que a alta conscienciosidade é preditora de religiosidade em adultos.
Por outro lado, além de afirmar que há relações entre personalidade e religiosidade, é imprescindível apontar para a dimensão de religiosidade que está sendo associada a algum fator de personalidade. Maltby, Maltby et al., Hills et al. e Koseck diferenciam as dimensões de religiosidade, encontrando resultados como a associação negativa entre a religiosidade intrínseca (RI) e o psicoticismo (P), mas não entre P e religiosidade extrínseca (RE); alta RE e busca associadas a altos índices de neuroticismo (N), bem como baixa RI a alto N; e RI e busca associadas positivamente à Amabilidade e Conscienciosidade (A e C). Kosek ainda afirma que pessoas com RI e busca possuem maior A e C, em outras palavras, de acordo com o autor, pessoas com uma crença positiva em relação a Deus apresentam predisposição pessoal em direção aos outros.
Um dos resultados que mais chamam a atenção nesta revisão parece ser o fato de que a religiosidade mostra mais relações entre suas diferentes dimensões (intrínseca, extrínseca e busca) do que com os fatores de personalidade investigados (PEN ou Cinco Grandes). Além disso, Saucier e Goldberg e Paunonen e Jackson apresentam resultados que corroboram com Hills et al., apontando para as baixas correlações entre as dimensões de religiosidade e os Cinco Grandes. Segundo os autores, a religiosidade é a mais provável candidata a residir além dos Cinco Grandes fatores de personalidade.
Assim sendo, diante da provável necessidade de se analisar e investigar melhor a religiosidade ou a espiritualidade como dimensões da personalidade, as pesquisas de Piedmont, McDonald e Cloninger et al. podem estar apresentando resultados importantes para a maior compreensão dessas dimensões.
Nesse sentido, ao analisar as dimensões de caráter (Autodiretividade; Cooperatividade e Autotranscendência) propostas por Cloninger et al., pode-se pensar se não apresentam alguma semelhança com a Transcendência Espiritual de Piedmont. Isso porque Cloninger et al. relacionam as três dimensões de caráter à maturação de autoconceito, ou seja, quando a pessoa se sente: 1º. Um indivíduo autônomo; 2º. Parte da humanidade como um todo e 3º. Parte do universo como um todo. Para Piedmont, Transcendência Espiritual pode ser definida como: 1º. Um senso de conectividade com toda a raça humana; 2º. Universalidade, crença na natureza unitiva de toda a vida; 3º. Rezar, ter sentimentos de alegria e contentamento que resultam de encontros pessoais com uma realidade transcendente.
Além disso, ao especificar algumas das cinco dimensões de espiritualidade, McDonald também apresenta características semelhantes aos outros dois. Entre outras, McDonald inclui: sentido e propósito para a existência e a percepção de si mesmo como sendo competente e capaz de lidar com as dificuldades da vida e com as limitações da existência humana e expressão da espiritualidade por meio de significados religiosos.



CONCLUSÃO

Os principais achados desta revisão foram: Alta Religiosidade associada a baixo P e altas A e C. Essa relação entre religiosidade e personalidade depende claramente da dimensão de religiosidade que é medida. Assim, observa-se que RI está associada a baixo P; Baixa RI, alta RE e Busca estão associadas a alto N; e o sentimento de culpa aparece como forte preditor de RI e Busca, embora os intrínsecos pareçam ser mais felizes, ser dogmáticos, não agressivos e independentes.
O único estudo longitudinal encontrado apresenta C em adolescentes como único preditor significante para a maior religiosidade na adultez jovem. Isso sugere que a hipótese de Michael Eysenck esteja correta ao afirmar que pessoas com baixo índice de P (ou alto índice de A e C) seriam mais atraídas para a religião. McCullough et al. também concluem, a partir de seus resultados, que adolescentes com maior instabilidade emocional estão mais sujeitos a adotar níveis de religiosidade semelhantes aos de seus pais. Finalmente, a associação positiva entre A e C, segundo Kosek, significa que uma predisposição pessoal em direção aos outros está associada a uma crença positiva em relação a Deus.
No entanto, embora tenham sido encontradas associações significativas entre religiosidade e personalidade, alguns autores sustentam que a crença em uma dimensão de Religiosidade, em uma realidade transcendente ou em um Deus pessoal parece não possuir correspondências entre quaisquer dos cinco fatores de personalidade. Dessa forma, a dimensão de Religiosidade é apresentada como a mais provável candidata a residir além dos cinco grandes fatores de personalidade e a Transcendência Espiritual, segundo Piedmont, pode ser considerada uma sexta dimensão da personalidade. Por fim, essa revisão também analisou duas importantes contribuições para a avaliação e para o diagnóstico diferencial entre psicopatologia e R/E: as Cinco Dimensões de Espiritualidade e o Inventário de Expressões de Espiritualidade, desenvolvidos no estudo de McDonald, e as Três Dimensões de Caráter e o Inventário de Temperamento e Caráter, desenvolvidos por Cloninger et al.
As diretrizes para futuras pesquisas são:

- avaliar a R/E como uma possível dimensão de personalidade;
- desenvolver um modelo que possa reunir as semelhanças encontradas entre os estudos de Piedmont, McDonald e Cloninger et al.;
- conduzir um estudo longitudinal que possa avaliar a relação entre R/E e personalidade.

Finalmente, ao que tudo indica, o estudo das relações entre personalidade e R/E tem aumentado e sua investigação possui relevância, principalmente porque muitos dados apontam para sua relação com o bem-estar e a saúde.

REFERÊNCIAS

HALL CS, Lindzey G, Campbell JB. Teorias da personalidade. Porto Alegre: Artmed; 2000.
PALMER ,M.. Freud e Jung sobre a religião. Loyola: São Paulo; 1997.
LUKOFF, D.; LUF, Turner R. Toward a More Culturally Sensitive DSM – IV – Psychoreligious and Spiritual Problems. J Nerv Ment Dis. 1992;180(11).
KOENIG, HG; MCCULLOULOUGH, ME, Larson DB. Handbook of Religion and Health: a century of research reviewed. New York: Oxford University Press; 2001.
DSM – IV. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Trad. Dayse Batista. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed; 1995.
FLECK, M.A.; BORGES, Z.N.; BOLOGNESI, G. Desenvolvimento do WHOQOL, módulo espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais. Rev Saude Publica. 2003;37(4):446-55.
MOREIRA-ALMEIDA, A. Fenomenologia das experiências mediúnicas, perfil e psicopatologia de médiuns espíritas [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2004. ]
NEGRO, P.J.; PALLADINO-NEGRO, LOUZÃ M.R. Do religious mediumship dissociative experiences conform to the sociocognitive theory of dissociation? J Trauma Dissociation. 2002;3(1).
MOREIRA-ALMEIDA, A.; LOTUFO, F.N.; KOENIG, H.G. Religiousness and mental health: a review. Artigo Especial. Rev Bras Psiquiatr. 2006.
MCCULLOUGH, M.E.; TSANG, J.A.; BRION, S. Personality traits in adolescents as predictors of religiousness in early adulthood: findings from the Terman Longitudinal Study. Society for Personality and Social Psychology. 2003;29(8):980-91.
SAROGLOU, V. Religion and the five factors of personality: a meta-analitic review. Pers Individ Dif. 2002;32:15-25.
PERVIN LA, John OP. Personalidade: teoria e pesquisa. Porto Alegre: Artmed; 2004.
GOLDBERG, L.R. An Alternative "Description of Personality": The Big-Five Factor Structure. J Pers Soc Psychol. 1990;59(6):1216-29.
SILVA, R.S.; SCHILOTTFEDT, C.G.; ROZENBERG, M.P.; SANTOS, M.T.; LELÉ, A.J. Replicabilidade do Modelo dos Cinco Grandes Fatores em medidas da Personalidade. Mosaico, estudos em psicologia. 2007;1(1):37-49.
COSTA, P.T.; MCCRAE, R.R. Primary Traits of Eysenck's P-E-N. System: Three- and Five-Factor Solutions. Personality Processes and Individual Differences. 1995;69(2):308-17.
MCDONALD, D.A.; TAYLOR, A. Religion and the five factor model of personality: An exploratory investigation using a Canadian university sample. Pers Individ Dif. 1999;27:1243-59.
DURIEZ, B.; SOENENS, B.; BEYERS, W. Personality, Identity Styles and Religiosity: An Interative Study Among Late Adolescents in Flanders (Belgium). J Per. 2004:72-5.
EYSENCK, M.W. Personality and the psychology of religion. Mental Health, Religion and Culture. 1998;1(1).
MALTBY, J.; TALLEY, M.I.; COOPER, C.; LESLIE, J.C. Personality effects in personal and public orientations toward religion. Pers Individ Dif. 1995;19(2):157-63.
MALTBY, J.; LEWIS, C.A. Religiosity and Personality Among US Adults. Pers Individ Dif. 1997;19(2):157-63.
LEWIS, C.A. Is the relationship between religiosity and personality 'contamined' by social desirability as assessed by the Lie Scale? A methodological reply to Michael W. Eysenck (1998). Mental Health, Religion and Culture. 1999;2(2).
ALLPORT, G.W.; ROSS, M.J. Personal Religious and Prejudice. J Pers Soc Psychol. 1967;5(4):432-43.
ARGYLE, M.; FRANCIS, L.; HILLS, P.; JACKSON, C. Primary personality trait correlates of religious practice and orientation. Pers Individ Dif. 2004;36:61-73.
MALTBY, J. Religious orientation and Eysenck's personality dimensions: The use of the amended religious orientation scale to examine the relationship between religiosity, psychoticism, neuroticism and extroversion. Pers Individ Dif. 1999;26:79-84.
HILLS, P.; FRANCIS, L.J.; ARGYLE, M.; JACKSON, C.J. Primary Personality Trait Correlates of Religious Practice and Orientation. Pers Individ Dif. 2004;36:61-73.
SAUCIER, G.; GOLDBERG, L.R. What Is Beyond The Big Five? J Personality. 1998;66(4).
PIEDMONT, R.L. Does Spirituality Represent the Sixth Factor of Personality? Spiritual Transcendence and the Five-Factor Model. J Personality. 1999;67(6).
KOSEK, R.B. Adaptation of the Big Five as a hermeneutic instrument for religious constructs. Pers Individ Dif. 1999;27:229-37.
PAUNONEN SV, JACKSON DN. What is beyond The Big Five? Plenty! J Personality. 2000;68(5).
MCDONALD DA. Spirituality: Description, measurement and relation to the Five Factor Model of Personality. J Personality. 2000;68(1).
CLONINGER, C.R.; SVRAKIC, D.M.; PRZYBECK, T.R. A psychobiological model of temperament and character. Arch Gen Psychiatry. 1993;50.
MCDONALD, D.A.; HOLLAND, D. Examination of the psychometric properties of the temperament and character inventory self-transcendence dimension. Pers Individ Dif. 2002;32:1013-27.
CLONINGER, C.R.; SVRAKIC, N.M.; SVRAKIC, D.M. Role of personality self-organization in development of mental order and disorder. Dev Psychopathol. 1997;9:881-906.