BLOG ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE. AUTOR: ÁLAZE GABRIEL GIFTED.
Disponível em http://espiritualidade-e-religiosidade.blogspot.com.br
NEUROTEOLOGIA
"Neuroteologia", também conhecida
como Bioteologia ou Neurociência Espiritual [1]
estuda os processos cognitivos que produzem experiências subjetivas
tradicionalmente categorizadas como religiosas ou espirituais[2]
e relacioná-las com padrões de atividade no cérebro,
descobrir como e porque elas evoluíram nos humanos, e os benefícios dessas experiências. O assunto tem formado a base
de vários livros de ciência popular.
O MRI scanner é um instrumento que
ajuda a estudar o cérebro em funcionamento. E um instrumento de grande ajuda
para a Neuroteologia. Existem varias áreas de estudo dentro da neuroteologia.
Algumas delas sao:
·
Estudo
sobre como o cérebro humano pode ter evoluído para produzir experiências ( Neuroteologia evolutiva);
·
Estudo
do desenvolvimento espiritual , do sentido de Deus e do Sagrado , e de
experiências religiosas em crianças. Do nascimento ate a infância (Neuroteologia desenvolvimental);
·
Estudo
do comportamento espiritual e religioso da raça humana por toda a história, e
de ancestrais de humanos como o Homo habilis
e o Homo erectus,
e espécies próximas como o Homo de Neanderthal (Neuroteoantropologia);
·
Estudo
do comportamento religioso e experiências religiosas em primatas e outros
mamíferos com inteligências avançada (Zooneuroteologia).
A meditação pode levar a pessoa a ter
emoções religiosas, como a sensação de estar em contato com Deus. Surgem daí
variadas indagações, tais como:
·
Evolução
- Porque e como as experiências espirituais evoluiram?
·
Idade – Bebês ou crianças
podem ter experiências espirituais? Quando o cérebro humano fica apto a ter
experiências espirituais? Existe alguma relação neurológica com o fato de que a
maioria dos líderes religiosos tiveram suas epifanias nos seus 30 anos?
·
Alucinógenos
e Enteógenos
– Porque algumas substâncias causam experiências espirituais?
·
Sexo – Como as
experiências espirituais se diferem entre homens e mulheres? Podemos
estabelecer uma relação entre essas diferenças com o Dimorfismo sexual do
cérebro da espécie humana?
·
Sonhos - Qual é a relação
entre experiências espirituais e sonhos? O indivíduo pode ter experiências
espirituais enquanto dorme?
·
Hipnose
– A experiências espiritual compartilha mecanismos com a hipnose?
·
Musica -
Cerimônias religiosas quase sempre envolvem música, e música pode gerar
sentimentos religiosos, e experiências espirituais . Porque isso acontece?
·
Genética
– A herança genética pode influenciar na facilidade de ter experiências
espirituais. O gene o (VMAT2) chamado de gene divino dá ao ser humano a
predisposição de ter experiências espirituais?
·
Espécies
– Primatas e mamíferos com inteligência avançada como o elefante ou golfinhos
podem ter experiências espirituais? Humanos primitivos podiam ter experiências
espirituais, elas eram semelhantes a de humanos modernos?
DEFININDO E
MEDINDO A EXPERIÊNCIA E SENTIMENTOS ESPIRITUAIS/RELIGOSOS
A
Neuroteologia tenta explicar a atual base neurológica para aquelas
experiências, que são popularmente chamadas de espirituais, religiosas, ou
místicas (e outros termos) para formas anormais de cognição, que quase sempre
envolvem um ou mais dos seguintes itens: A gravura de Flammarion é usada
frequentemente para ilustrar a experiência religiosa.
Exercícios de respiração como o Pranayama
podem causar experiências religiosas.
·
Inefabilidade - a experiência não pode ser
adequadamente ser colocada em palavras;
·
Noético : o indivíduo sente que ele
aprendeu alguma coisa de valor da experiência;
·
Inexistência do espaço e tempo : a
experiência causa a sensação de que não existe mais tempo e espaço;
·
Sagrado : a experiência cria a sensação de
que tudo é sagrado e divino;
·
União : sentimento de união com tudo no
universo, união com Deus ou alguma força maior que o indivíduo. [7]
·
Outra Realidade : sentimento de que uma nova
realidade ou a realidade definitiva foi revelada a ele.
o Realidade Divina
o Consciência do
absoluto
·
Sensações Positivas : a experiência é bem
prazerosa e causa sentimento profundamente positivo;
·
Efemeridade : a experiência é temporária; o
indivíduo rapidamente volta ao estado normal da mente;
·
Passiva : a experiência acontece para o
indivíiduo quase sem o seu controle.
·
Dissolução do Ego : consciência do "eu"
desaparece.
Essas experiências são vistas como base de
diferentes formas de religião e crenças .
Eventos que podem causar experiências espirituais
·
Técnicas
de concentração, meditação ,contemplação e que focam a atenção
·
Oração
·
Rituais
religiosos
·
Experiências
de quase morte
·
Exercícios
de respiração (Ex : Pranayama)
·
Música
·
Dança
·
Jejum prolongado
·
Consumo
de substâncias psicoativas (Como DMT (Ayahuasca), Salvia
divinorum, Peiote e várias outras).
PARTES DO
CÉREBRO RELACIONADAS A EXPERIÊNCIAS ESPIRITUAIS
Lobo frontal
em azul; Lobo parietal em amarelo; Varias partes do
cérebro estão relacionada com experiências místicas. São elas: *Lobo
occipital em vermelho; Lobo temporal
em verde.
·
Lobo parietal :
Diminuição de neuro-sinapses levando a sensação de união como o universo.
·
Lobo frontal :
Concentração ampliada (meditação)
bloqueia impulsos neurais externos, como sons, toque, frio , calor.
·
Lobo temporal :
Ativação intensa de emoção, como alegria extrema.
·
Lobo
occipital : Processa imagens que facilitam praticas espirituais
(Símbolos religosos como a estrela de
davi, cruz,
velas, etc.).
HISTÓRIA E
METODOLOGIA DE ESTUDO
Cientistas
há muito tempo têm especulado que sentimentos religiosos poderiam estar ligados
a lugares específicos no cérebro. Um dos mais antigos escritos sobre o assunto
datam de 1892,
nos quais alguns textos sobre doenças cerebrais falavam de uma ligação entre
"emoção religiosa" e epilepsia.
Em
estudos na década de 1950
e de 1960
, foram tentados o uso de EEGs para estudar o comportamento das ondas cerebrais
relacionado com estados espirituais. Em 1975, o neurologista
Norma Geschwidn descreveu pacientes epilépticos com intensa experiência religiosa.
Durante
a década de 1980s
o Dr. Michael Persinger estimulou o lobo temporal de pacientes humanos com um campo
magnético fraco usando um equipamento que ele chamava de capacete de
Deus (God helmet). Os pacientes relataram ter a sensação de "uma presença celestial
no quarto". Esse trabalho ganhou atenção na época, mas não foi explicado o
mecanismo que causava esses efeitos. Em 1987, Michael Persinger
publicou um livro sobre o assunto intitulado "Neuropsychological Bases of
God Beliefs".
Numa
tentativa de focalizar o crescente interesse no campo, em 1994, o professor Laurence
O. McKinney publicou o primeiro livro com o termo neuroteologia no título:
"Neurotheology: Virtual Religion in the 21st Century" (Neuroteologia:
Religião Virtual no Século XXI), escrito para uma audiência leiga. O livro
ganhou grande interesse de pessoas como o Dalai Lama
e o eminente teólogo
Harvey Cox.
Um
livro de 1998
sobre o assunto ganhou muita atenção foi "Zen and the Brain", escrito
pelo Neurologista
e Praticante de Zen,
James H. Austin.
No
final da década de 90, os neurocientistas Andrew Newberg e Eugene d’Aquili
usaram varias tecnicas de neuroimagem em budistas
experientes em profunda meditação,
e nos anos subseqüentes fizeram testes em freiras
enquanto estavam rezando. Andrew Newberg e Eugene d’Aquili escreveram vários
livros sobre o assunto:
·
em
1999, "A mente mística : entendo a biologia da experiência religiosa"
·
em
2002, "Porque Deus não quer ir embora: Ciência do
cérebro e a biologia da crença".
·
em
2006, "Porque acreditamos no que acreditamos:
Descobrindo sobre nossa necessidade biológica por significado, espiritualidade
e verdade"
·
em
outubro de 2007,
"Nascidos para acreditar: Deus,
Ciência, e a origem da crença ordinária e extraordinária".
Alguns
recentes estudos com o uso de neuroimagem para localizar as regiões no cérebro
ativas durante experiências que os pacientes associam como espiritual. David
Wulf, um psicólogo
da Wheaton Universidade de Massachusetts, disse que o "estudo de imagens
do cérebro com os novos e poderosos aparelhos de neuroimagem como o MRIscanner
(imagem), junto com a consistência do histórico de experiências espirituais por várias culturas,
pela história
e por religiões,
sugerem um ponto em comum , e que isso reflete a estrutura e processos no
cérebro humano. Ecoando antigas teorias de que sentimentos associados com experiências místicas ou religiosas são
aspectos normais do funcionamento do cérebro
sob circunstâncias extremas, e não comunicação direta com Deus ou outras
entidades."
Alguns
cientistas dizem que a neuroteologia pode reconciliar religião
e ciência,
mas, se não conseguir, a neuroteologia pode desevolver métodos seguros e precisos
de indução a experiências espirituais para pessoas que
nao conseguem tê-las facilmente. Por causa dos efeitos positivos que essas
experiências causam em pessoas que já a tiveram, alguns cientistas especulam
que a habilidade de induzí-las artificialmente pode tranformar a vida de
algumas pessoas, tornando-as mais felizes, saudáveis e com melhor concentração.
"GENE
DIVINO"
A
hipótese do gene
divino
propõe que alguns seres humanos carregam um gene que lhes dão a predisposição
para episódios interpretados por algumas pessoas como revelação religiosa. A
idéia foi postulada e promovida pelo geneticista
Dr. Dean Hamer, diretor da Unidade Estrutura do gene e regulação , no Instituto
nacional do câncer
nos Estados
Unidos . Hamer escreveu um livro sobre o assunto intitulado, O gene
divino : Como a fé e pré-programada dentro dos nossos genes . (The God Gene: How Faith is
Hardwired into our Genes)
De
acordo com a hipótese, o gene divino (VMAT2), não é “codificado” para a crença
em Deus, mas é arranjado fisiologicamente para produzir sensações associadas,
por alguns, com a presença de Deus ou outras experiências místicas, ou mais
especificamente espiritualidade como um estado da mente.
Que
vantagens evolutivas isso pode levar, e de que esses efeitos vantajosos são
efeitos colaterais , são questões que ainda estão para serem totalmente
exploradas. Dr. Hames teorizou que a transcendência faz as pessoas ficarem mais
otimistas, o que leva elas a ficarem mais saudáveis e com mais probabilidade de
terem muitos filhos.
Espiritualidade, dimensão
esquecida e necessária
Espiritualidade
vem de espírito. Para entendermos o que seja espírito precisamos desenvolver
uma concepção de ser humano que seja mais fecunda do que aquela convencional,
transmitida pela cultura dominante. Esta afirma que o ser humano é composto de
corpo e alma ou de matéria e espírito. Ao invés de entender essa afirmação de
uma forma integrada e globalizante, entendeu-a de forma dualista, fragmentada e
justaposta. Assim surgiram os muitos saberes ligados ao corpo e à matéria
(ciências da natureza) e os vinculados ao espírito e à alma (ciências do
humano). Perdeu-se a unidade sagrada do ser humano vivo que é a convivência
dinâmica de materia e de espírito entrelaçados e inter-retro-conectados.
1. Espiritualidade concerne ao todo ou à
parte? Espiritualidade, nesta segmentarização, significa cultivar um lado do
ser humano: seu espírito, pela meditação, pela interiorização, pelo encontro
consigo mesmo e com Deus. Esta diligência implica certo distanciamento da
dimensão da matéria ou do corpo. Mesmo assim espiritualidade constitui uma
tarefa, seguramente importante, mas ao lado de outras mais. Temos a ver com uma
parte e não com o todo.
Como vivemos numa sociedade altamente
acelerada em seus processos históricos-sociais, o cultivo da espiritualidade,
nesse sentido, nos obriga a buscar lugares onde encontramos condições de
silêncio, calma e paz, adequados para a interiorização. Esta compreensão não é
errônea. Ela contem muita verdade. Mas é reducionista. Não explora as riquezas
presentes no ser humano quando entendido de forma mais globalizante. Então
aparece a espiritualidade como modo- de-ser da pessoa e não apenas como momento
de sua vida. Antes de mais nada, importa enfatizar fato de que, tomado
concretamente, o ser humano constitui uma totalidade complexa.
Quando dizemos “totalidade” significa que nele
não existem partes justapostas. Tudo nele se encontra articulado e harmonizado.
Quando dizemos “complexa” significa que o ser humano não é simples, mas a
sinfonia de múltipas dimensões. Entre outras, discernimos três dimensões
fundamentais do único ser humano: a exterioridade, a interioridade e a
profundidade.
2.
A exterioridade humana: a corporeidade. A exterioridade é tudo o que diz
respeito ao conjunto de relações que o ser humano entretém com o universo, com
a natureza, com a sociedade, com os outros e com sua própria realidade concreta
em termos de cuidado com o ar que respira, com os alimentos que
consome/comunga,com a água que bebe,com a roupas que veste e com as energias
que vitalizam sua corporeidade.
Normalmente
se entende essa dimensão como corpo. Mas corpo não é um cadáver. É o próprio
ser humano todo inteiro mergulhado no tempo e na matéria, corpo vivo, dotado de
inteligência, de sentimento,de compaixão, de amor e de êxtase. Esse corpo total
vive numa trama de relações para fora e para além de si mesmo. Tomado nessa
acepção fala-se hoje de corporeidade ao invés de simplesmente corpo.
3.
A interioridade: a psiqué humana. A interioridade é constituída pelo universo
da psiqué, tão complexo quanto o mundo exterior, habitado por instintos, pelo
desejo, por paixões, por imagens poderosas e por arquétipos ancestrais. O
desejo constitui, possivelmente, a estrutura básica da psiqué humana. Sua dinâmica
é ilimitada. Como seres desejantes, não desejamos apenas isso e aquilo.
Desejamos
tudo e o todo. O obscuro e permanente objeto do desejo é o Ser em sua
totalidade. A tentação é identificar o Ser com alguma de suas manifestações,
como a beleza, a posse, o dinheiro, a saúde, a carreira profissional e a
namorada, o namorado, os filhos, assim por diante. Quando isso ocorre, surge a
fetichização do objeto desejado. Significa a ilusória identificação do absoluto
com algo relativo, do Ser ilimitado com o ente limitado. O efeito é a
frustração porque a dinâmica do desejo de querer o todo e não a parte se vê
contrariada. Daí, no termo, predominar o sentimento de irrealização e,
consequentemente, o vazio existencial. O ser humano precisa sempre cuidar e
orientar seu desejo para que ao passar pelos vários objetos de sua realização –
é irrenunciável que passe - não perca a memória bemaventurada do único grande
objeto que o faz descansar, o Ser, o Absoluto, a Realidade fontal, o que se
convencionou chamar de Deus.
O
Deus que aqui emerge não é simplesmente o Deus das religiões, mas o Deus da
caminhada pessoal, aquela instância de valor supremo, aquela dimensão sagrada
em nós, inegociável e intransferível. Essas qualificações configuram aquilo
que, existencialmente, chamamos de Deus. A interioridade é denominada também de
mente humana, entendida como a totalidade do ser humano voltada para dentro,
captando todas as ressonâncias que o mundo da exterioridade provoca dentro
dele.
4.
A profundidade: o espírito. Por fim o ser humano possui profundidade. Tem a
capacidade de captar o que está além das aparências, daquilo que se vê, se
escuta, se pensa e se ama. Apreende o outro lado das coisas, sua profundidade.
As coisas todas não são apenas coisas. Todas elas possuem uma terceia margem.
São símbolos e metáforas de outra realidade que as ultrapassa e que elas
recordam, trazem presente e a ela sempre remtem. Assim a montanha não é apenas
montanha. Em sendo montanha, traduz o que significa majestade. O mar evoca
grandiosidade; o céu estrelado, infinitude; os olhos profundos de uma criança,
o mistério da vida humana e do universo.
O
ser humano capta valores e significados e não apenas fatos e acontecimentos. O
que definitivamente conta não são as coisas que nos acontecem, mas o que elas
significam para a nossa vida e que experiências elas nos propiciam. As coisas,
então, passam a ter caráter simbólico e sacramental: nos recordam o vivido e
alimentam nossa interioridade. Não é sem razão que enchemos nossa casa ou o
nosso quarto de fotos, de objetos queridos dos pais, dos avós, dos amigos,
daqueles que entraram em nossa vida e significaram muito. Pode ser o último
toco de cigarro do pai que morreu de enfarte ou o pente de madeira da tia que
morreu ou a carta emocionada do namorado que revelou seu amor. Aqueles objetos
não são mais objetos. São sacramentos, pois falam, recordam, tornam presente
significados, caros ao coração.
Captar,
desta forma, a profundidade do mundo, de si mesmo e de cada coisa constitui o
que se chamou de espírito. Espírito não é uma parte do ser humano. É aquele
momento da conscicência mediante o qual captamos o significado e o valor das
coiss. Mais ainda, é aquele estado de consciência pelo qual apreendemos o todo
e a nós mesmos como parte e parcela deste todo.
O
espírito nos permite fazer uma experiência de não-dualidade. “Tu és isso tudo”
dizem os Upanishads da India, apontando para o universo. Ou “tu és o todo”
dizem os yogis. “O Reino de Deus está dentro de vós” proclama Jesus. Estas
afirmações remetem a uma experiência vivida e não a uma doutrina. A experiência
é que estamos ligados e re-ligados uns aos outros e todos à Fonte Originante.
Uma fio de energia, de vida e de sentido perpassa a todos os seres,
constituindo-os em cosmos e não em caos, em sinfonia e não disfonia.
A
planta não está apenas diante de mim. Ela está como ressonância, símbolo e
valor dentro de mim. Há em mim uma dimensão montanha, vegetal, animal, humana e
divina. Espiritualidade não consiste em saber disso, mas em vivenciar e fazer
disso tudo conteúdo de experiência. Bem dizia Blaise Pascal: “ crer em Deus não
é pensar em Deus mas sentir Deus”. A partir da experiência tudo se transfigura.
Tudo vem carregado de veneração e de sacralidade.
A
singularidade do ser humano consiste em experimentar a sua própria
profundidade. Auscultando a si mesmo percebe que emergem de seu profundo apelos
de compaixão, de amorização e de identificação com os outros e com o grande
Outro, Deus. Dá-se conta de uma Presença que sempre o acampanha, de um Centro
ao redor do qual se organiza a vida interior e a partir do qual se elaboram os
grandes sonhos e as significações últimas da vida. Trata-se de uma energia
originária, com o mesmo direito de cidadania que outras energias como a sexual,
a emocional e a intelectual.
Pertence
ao processo de individuação acolher esta energia, criar espaço para esse Centro
e auscultar estes apelos, integrando-os no projeto de vida. É a espiritualidade
no seu sentido antropológico de base. Para ter e alimentar espiritualidade a
pessoa não precisa professar um credo ou aderir a uma instituição religiosa. A
espiritualidade não é monopólio de ninguém, mas se encontra em cada pessoa e em
todas as fases da vida. Essa profundidade em nós representa a condição humana
espiritual, aquilo que designmos espiritualidade.
Obviamente
para as pessoas religiosas, esse Centro é Deus e os apelos que dele derivam é
sua Palavra. As religiões vivem desta experiência. Articulam-na em doutrinas,
em ritos, celebrações e em caminhos éticos e espirituais. Sua função primordial
reside em criar e oferecer condições para que cada pessoa humana e as
comunidades possam fazer um mergulho na realidade divina e fazer a sua
experiência pessoal de Deus.
Essa
experiência porque é experiência e não doutrina tem como efeito a irradiação de
serenidade, de profunda paz e de ausência do medo. A pessoa sente-se amada,
acolhida e aconchegada num Utero divino, O que lhe acontecer, acontece no amor
desta Realidade amorosa. Até a morte é exorcizada em seu caráter de espantalho
da vida. É vivida como parte da vida, como o momento alquímico da grande
transformação para poder estar, de fato, no Todo e no coração de Deus.
Esta
espiritualidade é um modo de ser, uma atitude de base a ser vivida em cada
momento e em todas as circunstâncias. Mesmo dentro das tarefas diárias da casa,
trabalhando na fábrica, andando de carro, conversando com os amigos, vivendo a
intimidade com a pessoa amada, a pessoa que criou espaço para a profundidade e
para o espiritual está centrado, sereno e pervadido de paz. Irradia vitalidade
e entusiasmo, porque carrega Deus dentro de si. Esse Deus é amor que no dizer
do poeta Dante move o céu, todas as estrelas e o nosso próprio coração.
Esta
espiritualidade tão esquecida e tão necessária é condição para uma vida
integrada e singelamente feliz. Ela exorciza o complexo mais dificil de ser
integrado: o envelhecimento e a morte.
Para
a pessoa espiritual o envelhecer e o morrer pertencem à vida, não matam a vida,
mas transfiguram a vida, permitindo um patamar novo para a vida. Assim como ao
nascer, nós mesmos não tivemos que nos preocupar, pois, a natureza agiu
sabiamente e o cuidado humano zelou para que esse curso natural acontecesse,
assim analogamente com a morte: passamos para outro estado de consciência sem
nos darmos conta dessa passagem. Quando acordamos nos encontraremos nos braços
aconchegantes do Pai e Mãe de infinita bondade, que desde sempre nos esperavam.
Cairemos em seus braços. E então nos perdemos para dentro do amor e da fonte de
vida.
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